Governança é o nome que se dá ao acompanhamento das atividades de algo, de maneira bem geral. A governança de um negócio, por exemplo, é o grupo de pessoas responsáveis pelo bom andamento das atividades. Mas o que acontece quando estamos falando de um sistema em que há descentralização e não temos necessariamente uma equipe atenta como é o caso da tecnologia Blockchain?
Sabemos que Blockchain é uma inovação que traz por um lado aspectos fortes relacionados à segurança, como o fato de que os históricos de transações ficam todos presentes e verificáveis, o que é muito positivo. E o que isso tem a ver com governança? Fica ligado que te contamos tudo nesse artigo!
O que é governança?
Governança é o conjunto de estruturas que permite que exista algum acompanhamento de certas atividades, o que inclui os meios pelos quais esse acompanhamento vai acontecer e também quem serão os responsáveis por verificar se tudo está ocorrendo conforme foi combinado.
Todas as vezes em que temos alguma missão a cumprir, seja ela pública ou privada, convém que exista governança para acompanhar as atividades. Isso acontece porque é esse grupo que faz a gestão e o acompanhamento entre o que se planejou anteriormente e o que está foi executado posteriormente.
O termo é derivado de governo, direcionamento, partindo do pressuposto justamente que seria possível ter um acompanhamento guiado quase como um volante de um veículo que cruza uma estrada. Para saber como está indo algum processo e se ele vai para a direção correta e pelos meios corretos, o volante da governança costuma ajudar bastante, inclusive para corrigir rotas que podem não chegar ao resultado pretendido.
Os ambientes em que ocorre a governança
Embora você já tenha entendido o que é governança, é preciso compreender como ela se manifesta na prática. Isto é, a governança pode ser aplicada de diferentes formas e aqui apresentamos algumas delas – a lista é exemplificativa e não exaustiva.
Governança pública
Você elege governantes em diferentes cargos a cada dois anos. Como saber se o que foi prometido durante a candidatura está sendo trazido para a realidade? Nesse ponto entra a chamada governança pública.
Neste caso, existem basicamente duas estruturas: a de acompanhamento externo, como a realizada por observatórios de políticas públicas e também por órgãos reguladores e de justiça e a de acompanhamento externo, que faz literalmente a ponte entre quem ganhou as eleições e quem colocará os planos anunciados em prática.
É através da governança pública que não apenas verifica como também direciona os aspectos de liderança, estratégia e controle que irão ditar os caminhos a serem percorridos por aquela gestão. Ou, em termos mais diretos, é o comitê responsável por fazer as palavras dos palanques e campanhas virarem ações concretas, mesmo que pelos bastidores.
Governança corporativa
Em um mundo de informações cada vez mais rápidas e dinâmicas, já parou para pensar em quem acompanha se as empresas (independente do porte) estão seguindo com seus próprios planos da maneira mais adequada, obedecendo tanto normas externas quanto internas? Entra nesse caso o papel da governança corporativa.
O objetivo aqui é bastante parecido com o da governança pública, mas com foco na atuação corporativa dos negócios: esse comitê aqui é responsável por lidar com o relacionamento entre as partes societárias, equipes de execução de tarefas em todos os níveis hierárquicos, órgãos de controle públicos e também todos as demais partes interessadas externas.
Os princípios básicos que regem a governança corporativa são a transparência, a equidade de informações, a prestação de contas e também a responsabilidade corporativa. Sabe aquele monte de estatutos internos e direcionamentos externos sobre como a empresa se posiciona? Tudo aquilo acaba tendo relação direta ou indireta com a governança corporativa.
Governança em TI
Para além de uma quantidade assustadora de cabos e conexões que ligam os computadores à rede de toda empresa, já parou para pensar quem fica responsável pelo bom andamento dessas atividades para que literalmente ninguém fique sem acessar o que precisa no dia a dia? Aqui entra a governança em tecnologia da informação.
Sim, essa faz parte da governança corporativa, mas é um braço em separado que demanda atenção pela responsabilidade que traz para o ambiente geral, principalmente em tempos em que temos conjuntos regulatórios como a Lei Geral de Proteção de Dados, que explica como as empresas devem tratar todos os dados que passam por elas.
Outro ponto que faz com que seja importante destacar essa área específica de governança é o fato de que hoje em dia existe uma preocupação muito maior com os aspectos de segurança dos dados. Dificilmente você nunca ouviu falar em algum caso de sequestro ou roubo de dados de alguma instituição pública ou empresa privada, infelizmente isso é algo cada vez mais comum.
A governança em TI é quem fica responsável por entender não apenas as melhores práticas para a continuidade diária das atividades como também para evitar que aspectos de segurança e vulnerabilidade se tornem dores de cabeça para os negócios – e, claro, também para instâncias públicas, já que a tecnologia está cada vez mais presente em todo canto hoje.
Governança e Blockchain: qual a relação?
Poderíamos tratar a governança em Blockchain como sendo um ambiente, mas na verdade a questão é ainda mais ampla: aqui tratamos do conjunto de padrões que serão autogeridos em uma rede descentralizada e que demanda atuação dos próprios usuários para continuar em sua trajetória – e esses padrões mudam de acordo com o tipo de comunidade administrada.
Aqui ganham mais importância não apenas o conhecimento transparente sobre como o código de programação funciona como também como funcionarão as regras de consenso e quais as condições pelo menos esperadas para que exista continuação futura daquela estrutura (por exemplo discutindo sobre como choques de segurança poderão ser suportados em um futuro próximo).
Levando-se em conta que aqui a gestão é mantida de maneira descentralizada, as regras da programação servem para dar base a como tudo acaba funcionando no fim das contas. É preciso que se fique atento a três pontos para entender como essa governança se desenvolve na prática.
Governança de Aplicativos Descentralizados (DApps)
A governança utilizando Blockchain precisa de estruturas de tecnologia autônoma para se desenvolver, e essas vêm de DApps, que são aqueles aplicativos que funcionam de maneira independentes e com regras próprias.
Aqui entram camadas que interagem entre si para que tudo funcione: na base temos a camada de protocolo de internet (como a TCP/IP), acima dela temos a camada da rede de blockchain (como a Ethereum), mais acima a estrutura do DApp (como no token Aragon) e, no topo dessas todas, está a camada do próprio aplicativo descentralizado.
Importante apontar que as regras de interação e confirmação entre as camadas precisam estar muito bem estabelecidas, porque elas podem conversar entre si sem qualquer interação humana por certo tempo ou o tempo todo. Se elas não andarem sozinhas e permitirem que tudo funcione autonomamente, a governança terá problemas e ficará prejudicada.
Governança pela infraestrutura
Neste ponto tratamos dos aspectos tecnológicos da própria rede Blockchain, as regras que fazem com que essa rede possa funcionar de fato. Agora tratamos de onde essas regras se originam e como elas impactam esse funcionamento. Tais regras podem ser endógenas, surgindo dentro da comunidade, ou exógenas, vindas de fora dela.
Os aspectos internos são as regras que definem os acertos da estrutura e as confirmações que ela demanda para funcionar, geralmente por meio dos contratos inteligentes. Já os pontos externos se relacionam com regras que estão alheias àquele funcionamento, como por exemplo as do protocolo TCP/IP – uma mudança dessas vem de fora, não da comunidade.
Quando o assunto é a infraestrutura, também temos outro aspecto importante: a governança ser on-chain ou off-chain. On-chain é quando as regras são codificadas na própria rede Blockchain e off-chain é quando elas vêm de fora.
Se por um lado o on-chain tem a vantagem de que não se fica dependendo de “boa vontade” humana, a maior desvantagem é o fato de que mudanças são mais complicadas de ocorrerem, já que o sistema só saberá agir de uma determinada forma para determinados problemas. Por isso, adotando esse meio, é importante que mecanismos de autocorreção estejam no radar.
Governança da infraestrutura
No caso da governança da infraestrutura a avaliação ocorre externamente, isto é, a governança é efetuada pela parte interessada mas que não está dentro da definição de regras que efetuada pela própria comunidade.
Encontramos nesse caso uma complexa rede de aspectos off-chain, que são externos ao que se define e delibera pela comunidade e, diferentemente da automatização promovida pelos contratos inteligentes e códigos de programação, depende de autorizações e análises humanas.
A diferença mais relevante entre a governança pela estrutura e da estrutura em Blockchain é o fato de que no primeiro caso a intenção é manter o funcionamento das regras conforme estabelecido da maneira menos dependente de autorização humana possível, enquanto o segundo é um sistema externo de acompanhamento que demanda muito olhar humano.
Governança em Blockchain: transparência é tudo!
Como já apresentamos, uma das maiores inovações trazidas pelo conjunto de ferramentas que compõem o Blockchain é o fato de que tudo pode ficar mais transparente, acessível, verificável e compreensível a quem participa de diversos processos que contam com ele, além de ter uma liberdade maior , uma vez que já que conta com menos necessidade de autorização humana.
Porém, para além dos relevantes e positivos aspectos, é sempre preciso ficar de olho em como as coisas funcionam, quais as regras estabelecidas e qual a continuidade esperada daquilo no futuro. Afinal de contas, mais importante do que uma tecnologia chamar a atenção é a utilidade real que ela traz, a novidade que vem com ela em termos de ajudar processos.
Entender sobre como funciona a governança com Blockchain ajuda muito a entender como diversos projetos do universo cripto vão adiante ou fracassam: geralmente tem tudo a ver com como as regras foram colocadas e como elas asseguram (ou não) que faça sentido aquela novidade trazida por aquele novo projeto.
Continue conosco aqui no Blog da Bitso e fique por dentro de diversos aspectos que impactam na sua mais consciente tomada de decisão possível quando o tema é criptomoedas e todo seu universo!