A gente mal se dá conta, mas, se olharmos com atenção, vamos ver que temos uma quantidade enorme de aplicativos instalados no celular. A grande maioria tem uma característica em comum: eles têm um dono.
Olha o exemplo dos apps da Meta: se o servidor der aquela famosa ‘travadinha’, os aplicativos saem do ar, como já aconteceu algumas vezes com o Instagram, Facebook e Whatsapp, tudo ao mesmo tempo.
Mas e se te contassem que existem apps que funcionam com base em blockchain, com código aberto e de forma descentralizada? Sim, são os DApps, os aplicativos descentralizados.
Aqui, vamos falar do funcionamento dos DApps, suas principais características, vantagens e desvantagens, com exemplos práticos de aplicativos descentralizados que funcionam já há um bom tempo, tanto na rede de Bitcoin quanto da rede Ethereum. Calma que vamos dar mais exemplos um pouco mais para frente deste texto. Então, vamos lá!
O que são DApps?
Os DApps são aplicativos que funcionam usando o poder computacional da internet, de forma descentralizada e gerando incentivos para que mais pessoas contribuam para o seu desenvolvimento. Em outras palavras, é uma aplicação de código aberto na qual não existe um servidor com todas as informações armazenadas – fica tudo distribuído (descentralizado, certo?).
Na realidade, a informação de um DApp está distribuída em uma cadeia de blocos interligados, sendo muito mais difícil que um hacker consiga roubar informações de quem usa o app, como acontece com certa frequência em aplicativos centralizados. Do ponto de vista da transparência, qualquer pessoa pode avaliar os registros do DApp, contribuir com melhorias e receber recompensas de tokens emitidos.
As características dos DApps
A principal característica dos aplicativos descentralizados é que seu funcionamento não depende de um servidor ou empresa. Todas as informações e funcionalidades estão transparentes para qualquer pessoa consultar na blockchain. Apesar dessa semelhança entre todos os DApps, é possível classificar esses aplicativos em 3 tipos diferentes:
- Tipo I: Aplicativos que têm seu próprio blockchain, como o Bitcoin. É isso mesmo que você leu; afinal, o Bitcoin foi o primeiro DApp disponibilizado, em meados de 2009, que funciona de forma descentralizada, com recompensas para quem contribuir com a rede (mineração) e open-source, ou seja, os códigos e funcionalidades estão disponíveis para consulta e contribuição da comunidade.
- Tipo II: DApps que usam o blockchain de um aplicativo do Tipo I, necessitando de tokens para o seu funcionamento. Quer ver um exemplo simples? Fora o Ether, todos os ativos que utilizam a rede Ethereum para efetivar as transações são do Tipo II, como são os casos de TrueUSD, Uniswap e Chainlink, além de 300 outros tokens.
- Tipo III: Muito parecido com o caso anterior, com a diferença que tem funções bem mais específicas. Ficou confuso? Se pensarmos nos contratos inteligentes (smart contracts) vinculados ao TrueUSD, esse seria um DApp do tipo III, pois depende de um aplicativo descentralizado do Tipo II (TrueUSD), que por sua vez se utiliza do blockchain próprio de Ethereum, um DApp do tipo I.
Como usar os DApps?
Apesar das diferenças em relação aos aplicativos centralizados, o uso de um DApp é semelhante ao caso comum: ele roda em computadores, aparelhos móveis (smartphones, smartwatch e tablets) e se apoia na internet para ‘ficar de pé’. Como o código é aberto, quem tiver vontade pode contribuir com o DApp, recebendo incentivos financeiros para tal, com os tokens emitidos pelo aplicativo.
E ainda tem mais um aspecto bem bacana em apps descentralizados, que é a questão da governança. A comunidade (grupo de pessoas engajadas) participa ativamente das decisões que impactam o negócio desenvolvido pelo DApp. No caso dos apps centralizados, como Facebook ou Tik Tok, por exemplo, o processo de decisão é totalmente privado, o que impacta na usabilidade e funcionalidades disponíveis.
Exemplos práticos de DApps ou Aplicativos Descentralizados
Tá, bacana, aprendemos um pouco mais sobre o que são, as características e como usar os aplicativos descentralizados, os famosos DApps. Agora chegou a hora de vermos na prática alguns exemplos de DApps espalhados por aí, já divididos por categoria, indicando sua principal funcionalidade.
DApps Clássicos
O Bitcoin foi o primeiro DApp lançado. Logo depois, muitos outros surgiram com a finalidade de transação de moedas digitais dentro do blockchain, de forma transparente e segura, como foi o caso da rede Ethereum, por exemplo.
Jogos e entretenimento
Há milhares de DApps de jogos disponíveis, com destaques para Alien Worlds e Splinterlands, sendo esse último focado em cartas colecionáveis e o primeiro no Metaverso, tendo ambos mais de 220 mil usuários ativos.
Marketplace
Há uma quantidade grande também de aplicativos descentralizados focados em criar um ecossistema de compra e venda de produtos e serviços. Os maiores exemplos são o OpenSea, o primeiro DApp peer-to-peer (trocas diretas entre pessoas, sem intervenções) e a Magic Eden, para comercialização de NFTs. Cada um deles possui em média 20 mil pessoas cadastradas.
Redes Sociais
Há diversas opções de redes sociais, mas a maioria delas são aplicativos centralizados. Isso quer dizer que regras, conteúdo e restrições são decididos por poucas pessoas, de forma privada. Pensando nisso, há diversas opções de DApps focados nas relações sociais e que rodam diretamente na blockchain, como a Yup e a Steemit, com mais de 5 mil usuários ativos em cada um.
As principais vantagens dos DApps
O sistema de funcionamento dos DApps proporciona vantagens em relação a aplicativos centralizados tradicionais. Quer ver só algumas delas?
- Descentralização: A principal característica dos DApps já é uma baita vantagem. Como as informações estão disponíveis no blockchain e sempre acessíveis, não existe um dono que tem vontade própria e pode alterar as funcionalidades se bem entender. As possibilidades são compartilhadas junto à comunidade, que se envolve com o projeto e toma as decisões de forma democrática.
- Código Aberto: O modelo open-source (código aberto) permite o engajamento da comunidade a fim de aprimorar as funcionalidades e identificar oportunidades de melhorias contínuas no funcionamento do app. Tudo está transparente para quem quiser ver, se envolver e participar.
- Recompensas Financeiras: Para encorajar a participação da comunidade, os DApps emitem tokens (ativos digitais) e distribuem de formas específicas, como é o caso da mineração de Bitcoin ou Ether, por exemplo, ou ainda por meio de engajamento no app, como apps de games ou redes sociais.
- Segurança: Pelo fato de as informações estarem distribuídas, os DApps são menos propensos a ataques cibernéticos e roubo de dados. Além disso, não há o risco de quedas de servidor e pane nos apps, como acontece frequentemente nos aplicativos centralizados.
- Menores taxas de transação: há vários exemplos de aplicativos centralizados que cobram taxas altas, como é o caso de aplicativos de transporte e alguns marketplaces. Devido à sua estrutura descentralizada, as taxas dos DApps são muito menores e lastreadas em tokens, o que tem o potencial de atrair quem usa outros apps e não aprova o valor pago.
Os 3 maiores desafios dos DApps
Apesar das vantagens citadas, há alguns desafios para uma maior utilização dos DApps.
- O primeiro e mais evidente é a quantidade de pessoas que usa. Mesmo no caso dos aplicativos de games, os mais populares com dezenas de milhares de pessoas usando frequentemente, o total de gente usando ainda é uma fração muito pequena do que se vê em aplicativos centralizados, como Whatsapp (2 bilhões), TikTok (1 bilhão) e Mercado Livre (34 milhões)
- Há também uma barreira tecnológica que precisa ser lembrada: quem desenvolve normalmente quebra a cabeça para descobrir os processos de armazenamento de dados, manutenção de sistemas e teste de funcionalidades. Tudo isso em meio ao modelo de blockchain.
- Por fim, normalmente há um esforço ‘comercial’ no lançamento de qualquer DApp, pois os tokens são vendidos no início para as pessoas que queiram participar da comunidade. Esse é um esforço que demanda tempo e planejamento, e pode comprometer a continuidade do app.
Os DApps e o futuro dos aplicativos (e das criptomoedas)
É bastante improvável que os DApps substituam os aplicativos centralizados. Mas fica cada vez mais nítido que ambos os modelos podem coexistir. Aplicações específicas que usam o poder do blockchain estão por toda parte, como é o caso do rastreio da origem na produção de alimentos, e até o processo de documentação e alterações em cartórios.
Se atualmente já existem mais de 3 mil DApps nas mais variadas categorias, muitos outros estão sendo desenvolvidos, inclusive com investimento pesado de grandes companhias, que têm apostado bastante nesse modelo de aplicação. Isso sem falar no aumento dos tokens vinculados aos DApps, devido ao interesse do público em geral.
E não custa relembrar: várias dessas moedas digitais e tokens (que usam DApps do Tipo I, como você aprendeu) estão disponíveis para compra e venda na plataforma da Bitso. Só se lembre sempre de avaliar o projeto, entender os riscos e só depois comprar a criptomoeda que deseja, combinado?