“Você sabe o que é open banking? Nunca vi, nem comi, só ouço falar (…).” Se não fosse a realidade para muitas pessoas, acho que esse trecho poderia ser usado como refrão para um bom samba, você não acha?
Mesmo já fazendo parte do nosso dia a dia, seja ao entrar no app do celular para ver o saldo ou no internet banking para fazer o download de algum extrato, o assunto open banking ainda é desconhecido por muitos, com boa parte das pessoas já tendo ouvido falar sobre isso, mas sem saber do que realmente se trata. Open banking seria um novo banco no mercado ou um “open bar” dos bancos?
Bom, antes de mais nada, para começar a entender esse assunto, temos que parar de pensar tanto nos bancos para dedicar a nossa atenção aos dados, aos nossos dados e informações pessoais. Afinal, como mostrou uma capa da The Economist, dados são o petróleo do século XXI.
Talvez você não tenha percebido, mas, na vida, quase tudo envolve a divulgação de alguma informação pessoal. A consulta ao médico, a matrícula escolar dos filhos e a compra de um carro são apenas alguns exemplos de como espalhamos informações por aí, mesmo sem nos darmos conta disso. Então, quando o assunto são operações financeiras, praticamente tudo envolve o compartilhamento de dados pessoais.
Open banking é sobre isso: uma inovação na forma de compartilhar dados e informações pessoais no sistema financeiro.
Mas pode ficar tranquilo se você ainda não entendeu direito, pois vamos explicar melhor e com mais detalhes. Usando um bem conhecido samba como um lema a ser seguido para a explicação: “é devagar, é devagar, devagarinho”.
O que é open banking?
Se fosse para falar o que é open banking usando apenas três palavras, estas seriam: facilidade, liberdade e transparência. E o texto poderia acabar por aqui!
É a facilidade na hora de realizar operações financeiras, a liberdade na escolha da instituição financeira que você prefere compartilhar os seus dados, e a transparência em saber com quais empresas os seus dados financeiros estão sendo compartilhados.
Mas, explicando de um jeito mais formal, open banking (sistema financeiro aberto) é um conjunto de regras e tecnologias desenvolvidas pelo Banco Central do Brasil (BCB) sobre o uso e compartilhamento de dados e informações financeiras entre instituições. É uma inovação criada no Reino Unido, que se espalhou para outros países – como Brasil -, para criar uma nova organização do sistema financeiro.
A partir dessa grande inovação, você, cliente, é dono dos seus dados, podendo compartilhá-los de forma simples e de acordo com o seu interesse, com quais empresas quiser e durante o período de tempo que achar melhor.
Claro, saber do que se trata o open banking é muito bom, mas entender pra que serve é melhor ainda!
Open banking, pra que serve?
Open banking é uma inovação que representa um enorme ganho – tanto para clientes quanto para instituições -, ainda mais na atual era de digitalização dos bancos. Ao mesmo tempo que serve para reduzir a burocracia, o open banking também é responsável por aumentar o nível de segurança no sistema financeiro.
A lógica de tudo isso, como já comentado anteriormente, ocorre graças ao fluxo de informações de clientes para as instituições, e das instituições entre si (de uma instituição com a outra). Para ficar mais simples de entender pra que serve o open banking, vamos usar o exemplo do mercado de carros usados.
Por que usar o exemplo do mercado de carros usados? É que muito provavelmente você sabe que existe uma diferença no preço dos carros novos (zero quilômetro) e usados. A questão é simples: carros usados possuem um valor de mercado menor que o de carros novos.
O motivo para essa diferença tem a ver com a informação sobre o carro, ou melhor, com a falta de informação.
O fluxo de informações importa para o preço
Diferente dos carros novos que acabaram de sair de fábrica, nós não possuímos informações seguras a respeito dos carros usados. Por mais que o vendedor se esforce em dizer que um carro usado está em ótimas condições, falando que está bem conservado e que nunca sofreu uma batida, sempre fica a desconfiança e, por consequência, gerando a redução do valor dos carros usados.
Isso se chama informação assimétrica, isto é, quando uma das partes sabe mais, possui acesso a mais informações do que a outra parte envolvida no negócio. Nesse caso, donos e vendedores dos carros usados possuem mais informações do que compradores. E claro, no geral, entende-se que quem tem mais informação possui a possibilidade de tirar vantagem sobre isso.
Compradores, mesmo que de forma inconsciente, sabem disso, fazendo com que o mercado de carros usados fique “nivelado” por baixo, com os carros usados – mesmo que em bom estado – sendo vendidos a preços menores.
Agora imagine um sistema que tivesse a capacidade de mostrar todas as batidas, problemas no motor e muito mais sobre cada carro de uma localidade. Seria possível ter acesso ao histórico de qualquer carro antes de oferecer uma proposta de compra. Teríamos muito mais facilidade, liberdade e transparência nesse mercado, correto? E agora, se existisse um sistema desses no mercado financeiro?
O mercado financeiro precifica melhor que tem mais informação
Para o mercado financeiro, como no caso do mercado de carros usados, esse sistema também traria muitos impactos positivos (mais facilidade, liberdade, transparência). Porém, diferente dos carros usados – pessoalmente não conheço nenhuma iniciativa de sistema que permita o acesso a todo o histórico de um carro -, já existe todo o esforço de um sistema desse tipo para o caso do mercado financeiro.
Esse esforço pelo desenvolvimento de um sistema que possibilite o acesso mais flexível e seguro a informações relevantes – como relacionamento, cadastro, histórico de transações e tantos outros dados – atende pelo nome, que a essa altura você já conhece muito bem, de open banking.
O banco que você tem conta já possui várias das suas informações, como hábitos e detalhes cadastrais. Com isso, ele tem mais condições de preparar uma proposta, de empréstimo por exemplo, atrativa, personalizada para o seu perfil. Mas esse mesmo pedido de empréstimo feito para um novo banco, que você ainda não tem conta aberta ou relação anterior, não deve resultar em uma proposta atrativa.
Semelhante a situação dos compradores no mercado dos carros usados, esse novo banco, que possui um número menor de informações a seu respeito, vai supor que você não é um bom pagador. Como consequência, esse banco vai acabar oferecendo taxas de juros mais elevadas e condições de pagamento mais restritivas (prazos de pagamento menores) para você.
Mas e um bom pagador, como ficaria nessa história? Simples, sairia perdendo! E o motivo é claro: pela falta de informações disponíveis. É para tentar resolver esse tipo de problema que existe o open banking.
Como funciona o open banking?
O cliente deve dar o seu consentimento para que os seus dados pessoais sejam compartilhados entre os bancos. Como já comentado anteriormente, um ponto bastante interessante sobre esse compartilhamento, é que ele ocorre para um fim específico e por um tempo definido.
Por exemplo, vamos imaginar que você já tenha um relacionamento com o banco Roda de Samba, mas queira criar uma conta no banco $ambi$ta$. Por meio do open banking você passa a ter a escolha de deixar as suas informações que estão no banco Roda de Samba serem transmitidas para o banco $ambi$ta$ por 4 meses – o tempo máximo é de 1 ano (12 meses) pelas regras do open banking.
Pelo exemplo anterior, você percebeu que há uma saída de toda aquela velha burocracia na hora de abrir conta em uma instituição financeira? Pois é, temos isso com o open banking. Além disso, outro ponto importante é observar os efeitos da redução dessa burocracia, como a possibilidade de propostas atraentes até mesmo de bancos em que não temos um relacionamento anterior.
Ainda sobre o exemplo anteriormente dado, a partir dele podemos observar os principais pilares do modelo open banking:
- o fim específico que levou ao compartilhamento de dados (abertura de conta);
- a instituição financeira com quem quero compartilhar os meus dados (banco $ambi$ta$);
- o tempo definido (4 meses);
- a sua aprovação (você permitiu que os seus dados pudessem ser compartilhados).
Esse conjunto de regras para transmitir dados entre instituições é fundamental para oferecer transparência e segurança para os participantes do sistema financeiro.
A implementação do open banking
Como já comentamos anteriormente, open banking inicialmente foi uma ideia desenvolvida no Reino Unido, tendo sido espalhada para outros países posteriormente, chegando também ao Brasil. Além disso, no Brasil a iniciativa do open banking é de responsabilidade do BCB.
Sobre a implementação do open banking, esta não foi imediata, tendo sido dividida em 4 (quatro) diferentes fases. Cada fase foi planejada para entrar em operação numa data diferente, seguindo um calendário:
- Fase 1 – entrou em operação em 01/02/2021;
- Fase 2 – entrou em operação em 13/08/2021;
- Fase 3 – entrou em operação em 29/10/2021;
- Fase 4 – entrou em operação em 15/12/2021.
Sobre o que foi implementado em cada uma dessas fases:
- Fase 1 – permitiu o compartilhamento de informações das instituições financeiras ao público, a exemplo de preços de produtos bancários e localização de agências;
- Fase 2 – permitiu compartilhar dados cadastrais de clientes, como número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) e filiação, entre as instituições financeiras;
- Fase 3 – permitiu o compartilhamento de serviços de pagamento, pela troca de informações sobre serviços de transferência por meio de Pix;
- Fase 4 – permitiu expandir a utilização de outros tipos de produtos e serviços financeiros, entrando em vigor de forma gradual até 25/03/2022 (data prevista).
O impacto do open banking sobre as criptomoedas
Falamos bastante dos benefícios trazidos com o open banking, que faz parte de uma enorme revolução financeira para facilitar a vida de clientes e de instituições financeiras. E é justamente a busca por uma maior facilidade o grande canal responsável pelo impacto dessa nova organização do sistema financeiro sobre as criptomoedas.
Por meio do open banking, a tendência é que a transferência entre as plataformas fique mais fácil. Isso ocorre pela possibilidade de fazer um depósito em reais a qualquer momento numa exchange de criptos, com o objetivo de comprar Bitcoin ou Ether, por exemplo.
Além disso, diferentes fintechs de criptomoedas teriam a possibilidade de oferecer vários serviços baseados em Bitcoin – como uma poupança automática em Bitcoin. A sua conta bancária ficaria ligada à sua conta em criptos, permitindo o acesso facilitado a uma série de operações financeiras.
Sem nenhum exagero, é possível dizer que o open banking pode servir como uma porta para as criptos entrarem definitivamente para o “mainstream” do sistema financeiro.
O que aprendemos sobre open banking?
Começamos com um samba, então por que não terminar em ritmo de samba também? Porém, depois de chegar até aqui, no fim deste artigo, a nossa música precisa ser diferente.
“Você sabe o que é open banking? Acabei de ver, entender e sobre esse assunto eu já posso falar (…)”.
Ok, a sonoridade desse samba não é das melhores, mas ao menos o seu significado, com uma boa margem de certeza, reflete bem a realidade! Vimos que o open banking é uma enorme inovação, realizada para facilitar a sua vida, cliente, e também a vida das instituições financeiras. Facilidade, liberdade e transparência são palavras que podem resumir bem o significado de open banking.
No Brasil, já sabemos que, sob responsabilidade do BCB, toda a implementação do open banking foi planejada para acontecer em diferentes fases (um total de quatro), com a última ainda estando em implementação.
Sobre o potencial do impacto do open banking no mercado financeiro, não é exagero dizer que o céu é o limite, principalmente quando o assunto são criptomoedas. Com o open banking, operações com criptos se tornarão ainda mais fáceis e vantajosas, atraindo um número crescente de pessoas, até mesmo aquelas que até pouco tempo atrás nem haviam ouvido falar sobre criptos.
Ótimo texto!