Criptomoedas e o consumo de energia: qual a polêmica?

Bitcoin e o uso de energia

Quando falamos em criptomoedas, geralmente os pontos mais abordados são em relação a como a cotação variou, ao interesse das pessoas, aos usos e problemas que pode resolver. Mas há um aspecto também importante e que pode causar muita confusão de análise: o consumo energético no processo de mineração de criptomoedas.

Na imensa maioria das vezes, você verá em alguns lugares sobre o consumo de energia para a mineração do Bitcoin para apontar a direção de “todo o consumo” em criptomoedas, porque ela é a mais famosa e conhecida globalmente. Mas neste artigo você verá que, tal qual basicamente tudo na vida, a questão é mais ampla do que isso.

Para facilitar o entendimento durante o artigo, utilizaremos durante boa parte dele a analogia entre Bitcoin e energia quando estivermos falando sobre o consumo de energia das criptomoedas, mas logo também serão apresentadas questões que englobam outras moedas digitais. Então, vamos nessa!

Como criptomoedas demandam energia?

Primeiramente, é válido começar apontando sobre como as criptomoedas, em seu processo de mineração e também de utilização, demandam energia.

Quando falamos da mineração, que é, de maneira bastante simplificada, o processo pelo qual computadores potentes conseguem “encontrar” soluções matemáticas para problemas complextos, o consumo existente se dá pelo uso da capacidade desses computadores, em seus chips e placas de vídeo. Pelo uso intensivo das máquinas, os mineradores são recompensados com unidades da criptomoeda.

Como você pode acompanhar em outros artigos aqui no Blog da Bitso, nem todos os projetos de criptomoedas demandam mineração, é possível que a oferta de moedas digitais seja simplesmente disponibilizada. Porém, nas transações com elas (ou qualquer operação que utilize sua rede), todo tipo de autenticação demanda também energia para acontecer.

Então, diretamente, as criptomoedas geram consumo de energia por basicamente dois grandes meios: através da mineração que as “encontra” e das transações que são feitas com elas.

O consumo de energia é realmente notável…

Um dado que talvez possa assustar à primeira vista: você sabia que Bitcoin consome hoje mais energia do que o Estado de São Paulo ou a Argentina para ser minerada e ver suas transações acontecerem? É o que aponta um índice da Universidade de Cambridge a respeito desse assunto. Mais de 100 TeraWatts/Hora são consumidos por ano nesse processo.

Não surpreendentemente, podemos verificar um aumento enorme nesse consumo de energia conforme a cotação do Bitcoin subia e o uso dessa criptomoeda se tornava cada vez mais presente (ou no mínimo comentado ao redor do mundo).

Imagine só o cenário em que o aumento do consumo de energia para utilização do Bitcoin siga aumentando conforme a discussão sobre seus usos aumenta. Onde será que vamos parar? Será que esse um dia se tornará o maior consumo de energia elétrica do planeta?

… mas ainda distante do que acontece em outros usos e com fontes verdes

Muita calma nessa hora. Não é preciso se desesperar pensando que o mundo vai acabar apenas para que você use Bitcoin. Na verdade, existem dois aspectos que mostram como, na realidade, esse consumo é menos causador de problemas do que você a princípio pode imaginar.

Em primeiro lugar, comparando o consumo de energia elétrica da mineração e dos usos de Bitcoin com outras atividades análogas, como o sistema bancário tradicional e a mineração do ouro (já que de vez em quando a moeda é chamada de “ouro digital”), vemos que o Bitcoin segura a medalha de bronze nesse consumo com certa folga.

É isso mesmo: segundo o levantamento “On Bitcoin’s Energy Consumption: A Quantitative Approach to a Subjective Question“, Bitcoin demanda 113,89 TWh por ano, o que representa menos da metade dos 240,61 TWh demandados pela indústria do ouro e cerca de 43% do que o sistema bancário (considerando os data centers dos 100 maiores bancos do mundo, usos de cartão, agências bancárias e caixas eletrônicos), esse que totaliza 263,72 TWh por ano.

O segundo aspecto a ser levado em consideração é a origem das fontes de energia que são utilizadas para que o Bitcoin “rode” no mundo todo. De acordo com o Bitcoin Mining Council (BMC), um fórum global que reúne companhias que mineram e outros interessados da cadeia do Bitcoin, a energia utilizada nesses processos vem, em dois terços dos casos, de fontes limpas – 66,1%, em dados coletados por eles referentes ao quarto trimestre de 2021.

Ainda sobre o segundo aspecto, vale comentar que existem iniciativas dentro da chamada “mineração verde” que envolvem, por exemplo, a utilização de resíduos da matriz energética tradicional (como o carvão) para fazer esse processo acontecer. Países como os EUA têm estimulado cada vez mais esse tipo de prática.

Como fazer para consumir menos? Tecnologia de mineração faz toda diferença!

Possivelmente você que chegou até aqui está pensando: “tudo bem, pode não ser o maior consumo se a gente compara com outros usos, mas ainda assim usa energia pra caramba! Não tem como diminuir isso não?”. Tendo pensado nisso, nossos parabéns: sua hipótese está correta, só que para isso é preciso pensar em outras criptomoedas.

A tecnologia que envolve a mineração pode estar baseada em um dos dois seguintes meios: proof of work ou proof of stake. A diferença entre os dois apresenta relação direta com o consumo de energia elétrica na mineração de criptomoedas.

Enquanto no modelo de mineração proof of work o poder computacional demandado é mais alto porque “será remunerado quem encontrar primeiro” a resolução do problema, quando falamos de proof of stake a metodologia é de remunerar mais quem já tiver encontrado mais criptomoedas antes.

A diferença no consumo pelos dois meios se dá pelo seguinte motivo: em proof of work, se você “usar mais combustível” na busca pela próxima unidade de criptomoeda pode aumentar suas chances, enquanto que, em proof of stake, suas chances só aumentam conforme você já minerou outras unidades antes.

Usando uma comparação com o mundo real, proof of work é quando você paga um bilhete mais caro na Mega Sena para poder escolher mais números (e aumentar sua probabilidade de ganhar), enquanto proof of stake é quando você usa o dinheiro desses bilhetes caros em investimentos e, ao longo do tempo, vê seu montante investido aumentar (o montante, não a probabilidade disso).

São exemplos de moedas digitais que utilizam proof of work para mineração: Bitcoin, Ether, Bitcoin Cash, Litecoin e Monero. E, quando falamos em mineração por proof of stake, temos como exemplos Ethereum 2.0, Cardano, Polkadot, Solana e Polygon.

Alternativas surgem dentro do universo das criptomoedas literalmente todos os dias e hoje já temos algumas milhares de opções possíveis. Certamente, quando o assunto é o consumo de energia elétrica em mineração, a tecnologia utilizada para encontrar novas moedas digitais faz toda a diferença.

ESG: uma conversa cada vez mais presente

Durante muitas décadas o capitalismo se perguntou sobre como seria possível ser cada vez mais rentável, mais lucrativo, independente dos impactos trazidos por isso. Mais recentemente, a discussão tem mudado para entender sobre como se é possível avançar em lucratividade, mas sem deixar de lado os impactos sociais e ambientais gerados pela atuação dos negócios.

Esse conjunto de discussões fica centrado em uma sigla que tem sido cada vez mais falada: ESG, que é o resumo para Enviroment (meio ambiente), Social (aspectos sociais) e Governance (relativo à governança corporativa das empresas). Em outras palavras: que efeitos a atuação de um negócio ou atividade econômica traz para o todo em que está inserida.

Para se ter uma ideia do tamanho da demanda que isso envolve, a maior gestora de recursos do planeta, BlackRock, que tem mais de US$10 trilhões em recursos sobre gestão, afirma abertamente que está na busca por liderar o movimento de investidores globalmente rumo a fundos de investimentos que foquem em atividades que respeitem essa nova corrente de ações.

Levando em conta que existe uma demanda crescente por esse tipo de assunto, não é difícil verificar como as criptomoedas também passarão por esse crivo. Ou, mais diretamente: o uso dessa moeda digital (qualquer que seja) deixa pegadas no mundo de que maneira?

Custo-benefício: a liberdade vs o impacto sobre a energia global

Considerando todo esse novo espectro de discussões a respeito de como as atividades econômicas impactam o mundo, vale a reflexão: o que as criptomoedas trazem de novo faz com que se compense os impactos por elas deixados, principalmente quando falamos do quesito consumo de energia elétrica? Certamente sim.

Apenas quando observamos as possibilidades financeiras (que são uma parte de tudo que esse novo universo traz de novidade), a descentralização, possibilidade de envio de recursos rapidamente e ao redor do mundo com custo relativamente baixo e a inclusão das pessoas nessa imensa rede mostram que os benefícios presentes superam os custos impostos.

É preciso pensar em meios mais eficientes de permitir que essas atividades ocorram? Claro. Mas é, como apresentamos aqui, um argumento bastante frágil para colocar sobre os ombros do Bitcoin (ou mesmo das criptomoedas) a responsabilidade por algum consumo de energia que seja capaz de desalinhar o planeta de alguma forma.

O X da questão sobre o uso de Energia no Bitcoin e outras criptos

Sim, o consumo de energia elétrica que ocorre quando falamos das criptomoedas é não desprezível. Na verdade, é imenso. Mas, não, isso não vai acabar com o planeta e não deveria ser a maior das preocupações quando o assunto são as moedas digitais.

A discussão sobre esse assunto é bastante ampla e, por isso, não faz muito sentido que pare em simplismos como os que encontramos por aí – que sugerem que se não fosse pelo Bitcoin o mundo teria menores problemas de energia ou coisa que o valha.

Talvez a maior das vantagens da revolução trazida pelo universo das criptomoedas seja acontecer justamente no momento em que o mundo passou a se preocupar mais com o impacto das atividades econômicas. Assim, algo que é apenas preocupação recente para muitos setores, é quase que desde o início para quem desenvolve novas ideias neste campo.

Que venham as boas discussões a respeito de como podemos utilizar melhor as criptomoedas, levando em conta seus riscos e oportunidades – como você sempre pode ler aqui no Blog da Bitso. É muito mais agregador do que discutir ruídos que, no fim das contas, não serão propositivos e, ironicamente, apenas gastarão energia elétrica indo do nada ao lugar nenhum.

O Time Bitso é formado por especialistas em criptomoedas, garantindo informações seguras e precisas sobre o mundo cripto.