É possível dizer que a história dos Cypherpunks é o primeiro capítulo da história das criptomoedas. O motivo é que esse grupo defendia veementemente a privacidade na era eletrônica, e o meio que encontraram para colocar essa ideia em prática era usando a criptografia.
Para os Cypherpunks, essa camada de segurança era o melhor caminho para garantir a individualidade das pessoas na rede, pois tirava das mãos de instituições e órgãos governamentais o controle sobre os dados e as informações transacionadas eletronicamente e via internet.
Justamente esse princípio foi o que possibilitou a Satoshi Nakamoto — seja quem for essa ou esse indivíduo — criar o Bitcoin, a primeira criptomoeda do mundo descentralizada e 100% digital e precursora desse mercado.
Em outras palavras: sem Cypherpunks, sem Bitcoin. E sem Bitcoin, sem altcoins e tokens! Ou seja, nada do que conhecemos desse universo seria possível.
Por isso, a história dos Cypherpunks é tão importante. E é sobre ela que vamos falar agora. Acompanhe!
A história dos Cypherpunks: origem e nome
A história dos Cypherpunks começou na década de 1990, na região da baía de São Francisco, na Califórnia, quando um grupo de matemáticos, hackers, criptógrafos, desenvolvedores e cientistas se reuniram para defender o direito à privacidade por pessoas que usavam a internet, suas soluções e serviços.
O nome Cypherpunks foi criado por Jude Milhon, autora e hacker que era mais conhecida como ST Jude. Juntando os termos em inglês “cypher” (referente à criptografia) e “punk” (movimento contestador) ela definiu um trocadilho para a palavra “cyberpunks”, que seriam pessoas que usavam a criptografia para um propósito, digamos, um pouco mais revolucionário.
Essa nomenclatura se tornou tão importante e significativa que em novembro de 2006 foi inserida no Oxford English Dictionary, que é considerado um dos mais conceituados da língua inglesa.
cypherpunk – Oxford English Dictionary
“a person who uses encryption when accessing a computer network in order to ensure privacy, especially from government authorities”.
Em português: “Uma pessoa que usa criptografia ao acessar uma rede de computadores para garantir a privacidade, especialmente das autoridades governamentais”.
A história dos Cypherpunks: os primeiros passos
Mas assim como a história do Bitcoin se iniciou com base nas ideias e percepções dos Cypherpunks, a jornada desse grupo também foi fundamentada em outro personagem. No caso, estamos falando de David Lee Chaum, pioneiro da aplicação da criptografia no ambiente digital.
Nascido em 1955, Chaum é considerado um dos maiores criptógrafos do mundo e visto como uma das primeiras pessoas a criar ferramentas que promovessem a privacidade de dados em operações de transferência de valores e de informações.
Também conhecido como o “pai do dinheiro digital”, suas ideias foram reunidas e utilizadas por Eric Hughes, Timothy May e John Gilmore, criadores do grupo Cypherpunks.
Para você conhecer um pouco mais sobre eles, Hughes é criptógrafo, programador de computador e matemático. May, falecido em 2018, era engenheiro eletrônico, escritor político e cientista.
Já Gilmore é programador e um dos fundadores da Electronic Frontier Foundation, inclusive, local onde aconteceram as primeiras reuniões do grupo. Ele também é o responsável por liberar o seu site para hospedagem da lista de e-mail do movimento.
A história dos Cypherpunks: o manifesto
O manifesto Cypherpunk é um dos documentos mais importantes emitido por esse grupo. Lançado em 9 de março de 1993, por Eric Hughes, esse registro traz os objetivos, pontos de vista, propósitos e ações defendidas por essas pessoas.
Entre as diretrizes encontradas nesse manifesto estão:
“A privacidade é necessária para uma sociedade aberta na era eletrônica. Privacidade não é segredo. Um assunto privado é algo que não queremos que o mundo inteiro saiba, mas um assunto secreto é algo que não queremos que ninguém saiba. Privacidade é o poder de se revelar seletivamente ao mundo.”
“A privacidade em uma sociedade aberta também requer criptografia. Se digo algo, quero que seja ouvido apenas por aqueles a quem pretendo. Se o conteúdo do meu discurso estiver disponível para o mundo, não tenho privacidade. Criptografar é indicar o desejo de privacidade, e criptografar com criptografia fraca é indicar não muito desejo de privacidade. Além disso, revelar a identidade com segurança quando o padrão é o anonimato requer a assinatura criptográfica.”
“Nós, os Cypherpunks, nos dedicamos a construir sistemas anônimos. Estamos defendendo nossa privacidade com criptografia, com sistemas de encaminhamento de correspondência anônima, com assinaturas digitais e com dinheiro eletrônico.”
Vale destacar que há também o denominado “Manifesto Criptoanarquista”, escrito por Timothy May que, entre outros pontos, aborda:
“A computação está prestes a fornecer a capacidade de indivíduos e grupos se comunicarem e interagirem de forma completamente anônima. Duas pessoas podem trocar mensagens, fazer negócios e negociar contratos eletrônicos, sem saber o nome autêntico ou a identidade legal do outro.
As interações de rede serão intratáveis, graças ao amplo uso do roteamento de pacotes criptografados em máquinas à prova de violações que implementam protocolos criptográficos com garantias quase perfeitas contra tentativas de violação”.
Cypherpunk na atualidade
Como boa parte das histórias que conhecemos, a dos Cypherpunks também perdeu a popularidade com o passar do tempo. Por conta disso, o grupo foi deixando de estar em evidência, principalmente depois que a criptografia começou a ser utilizada como um recurso “natural” de segurança nas operações digitais.
Ainda assim, é possível encontrar algumas ações mais isoladas e pontuais de membros antigos, mas que continuam causando impacto na sociedade. Um exemplo desse posicionamento é o apresentado por Julian Assange.
Assange é ativista, programador de computador, jornalista e fundador do site WikiLeaks, que faz a divulgação de informações confidenciais de agências governamentais e empresas de todo o mundo.
Justamente o propósito do site foi um dos motivos que o levou para a prisão inúmeras vezes e a responder por diversas acusações criminais, tais como a de violação da Lei de Fraude e Abuso de Computadores.
Mas ainda que existam situações como essas, o aprendizado que devemos tirar da história dos Cypherpunks é quanto as ações de um determinado grupo de pessoas modificaram drasticamente um cenário.
Sem essa iniciativa, muito possivelmente não teríamos as criptomoedas e a aplicação da criptografia em tantos outros produtos e serviços, especialmente os financeiros.
Assim, como você pôde ver até agora, há muito mais por trás da criação das criptos, incluindo diversas participações que vão além de Satoshi Nakamoto.
Para conhecer mais sobre elas e mais assuntos que fazem parte desse universo, confira os outros conteúdos que estão disponíveis aqui, no blog da Bitso.