Possivelmente você já ouviu o termo spread por aí. De maneira simples e direta, uma de suas traduções possíveis para o português é “aumento”. Mas, quando falamos do sistema bancário e do mercado financeiro, as explicações ficam mais amplas do que isso. Nesse artigo você vai entender quais são elas e por qual motivo fazem diferença na sua vida financeira.
Levando em conta que existem o spread bancário e o spread no mercado financeiro, vamos apresentar a você em detalhes as características dos dois. Vem com a gente!
O que é spread bancário?
Certamente você já ouviu por aí a frase “o melhor negócio do mundo é vender dinheiro”. Se ela faz sentido ou não são outros quinhentos, mas “vender dinheiro” é basicamente o que os bancos fazem, é o negócio principal deles. Essa venda, que na prática é um serviço financeiro, acontece quando duas pontas são conectadas no mercado financeiro.
Essas duas pontas são as dos indivíduos que têm recursos financeiros de sobra, que podemos chamar de superavitários e a dos indivíduos que estão buscando dinheiro por quaisquer motivos, que podemos chamar de deficitários. O encontro desses dois agentes, no mercado financeiro, demanda que aquele que empresta recursos seja remunerado e o que pega emprestado pague pelo uso desse dinheiro no tempo.
Afinal, quem empresta quer algum tipo de recompensa pelo fato de correr o risco de não ver o seu dinheiro de volta ou mesmo por não poder utilizá-lo agora pois foi emprestado a outra pessoa.
Como funciona o spread bancário?
Ao observar como funcionam essas duas remunerações, percebemos que aquele que empresta ao banco, na imensa maioria dos casos, costuma receber remuneração menor do que aquela que é paga por quem pega emprestado dinheiro do banco. Essa diferença de taxas é o spread bancário.
Então, em termos mais diretos, spread bancário é a diferença encontrada entre as taxas de juros que são recebidas dos deficitários (aqueles que pegam dinheiro emprestado do banco) e as pagas aos superavitários (que emprestam esse dinheiro ao banco).
Existem outros meios de financiamento dos bancos, como as taxas diretas pelos serviços (tipo aquela tarifa de manutenção da conta, ou mesmo aquela cobrada ao realizar um TED, sabe?), mas a espinha dorsal de como os bancos ganham dinheiro de verdade está justamente no spread bancário.
Como calcular o spread bancário?
Todos os dias as instituições financeiras realizam diversas operações nos dois lados, o de emprestar dinheiro e o de receber recursos que serão utilizados para emprestar para outras pessoas. Então seria difícil cravar com exatidão qual seria o spread bancário de um banco em um período específico de tempo, mas são usadas aproximações para isso.
Simplificando a situação, imaginando o caso de que o banco tenha apenas uma operação de empréstimo de 20% de juros ao ano e esteja remunerando um superavitário em 8% ao ano, temos um spread bancário de 12%.
A conta é a seguinte: o quanto quem pegou emprestado paga (os 20%) menos o quanto o banco paga a quem emprestou pra ele (os 8%), esse é o spread bancário (os 12%).
Os 5 fatores que mais afetam o spread bancário
Dentre os fatores que mais impactam o spread bancário, podemos destacar os seguintes pontos:
- Inadimplência: sendo esse sistema formado pelo encontro entre superavitários e deficitários, quando ocorre de uma das pontas não pagar o valor devido, por qualquer que seja o motivo, o risco aumenta; e isso, no setor bancário, significa que todos vão pagar mais caro, com spreads maiores;
- Baixa competição no setor: sim, os bancos digitais estão chacoalhando o mercado, mas até pouco tempo atrás mais de oito a cada dez transações eram realizadas em apenas cinco bancos; se você não tiver muitas opções alternativas não terá como “fugir”: vai pagar as taxas (de juros e serviços) que os poucos que ali estiverem cobrarem de você;
- Carga tributária e demais custos: quando você não tem muita competição, não tem muito problema em repassar os custos (já que todos os outros poucos players do mercado também vão); então, juntando ao que já se tem de risco de inadimplência, qualquer aumento na carga tributária ou outro custo do tipo acaba indo para os juros cobrados, ou seja, aumenta o spread;
- Taxa de juros e inflação: de maneira bem resumida, o Banco Central mexe a taxa básica de juros (Selic) com base na inflação e, quanto mais alta essa estiver, mais altos os juros estarão; como esses juros são a base para o sistema bancário, se estiverem altos, empurram os custos de empréstimos para cima;
- Crédito subsidiado: toda vez que algum grupo sai beneficiado por alguma política específica de financiamento, todos os outros grupos pagam a diferença; isso impacta sobre a taxa básica de juros e, como já vimos, acaba desembocando em todas as outras taxas do mercado, inclusive o spread.
Especificamente sobre este último fator, vale um exemplo ilustrativo. No início dos anos 2010 o BNDES executou a chamada “política das campeãs nacionais”, em que emprestava dinheiro para essas empresas a um custo muito inferior ao da Selic da época.
Para exemplificar como esse subsídio aumenta o custo de todos os outros, vamos a um exemplo. Se a Selic estivesse em 8% ao ano e esses empréstimos fossem concedidos a 2%, a diferença entre eles (os 6%) não ficaria no além, seria custeada por todos os outros agentes, que pagariam mais caro do que necessariamente seria preciso, pois o custo total do dinheiro estava maior.
A discussão sobre subsídios serem necessários ou não – e se funcionam ou não – é ampla e não entra aqui, mas vale pensar sempre que o efeito prático de subsidiar o custo do dinheiro para um grupo específico significa que todos os outros grupos vão pagar mais caros. Dentro do sistema bancário isso contribui para elevar o spread a todos.
E o que é spread no mercado financeiro?
A ideia aqui continua sendo a de uma diferença que mostra ganhos ou perdas, mas o olhar é outro. Enquanto no spread bancário o foco está sobre as taxas de juros, aqui é sobre os preços diretamente.
Spread no mercado financeiro é a diferença entre o preço de pedido e o preço que o mercado está disposto a pagar dentro de uma operação financeira de compra e venda. Parece grego, mas, trazendo pro português: é a diferença entre o que se oferta e qual é a demanda do mercado.
Para entender essa diferença é importante trazermos dois novos termos para a discussão: bid e ask. Bid é o preço que você está disposto a pagar por um ativo e Ask é a cotação daquele ativo que o mercado paga naquele momento (ou seja, o preço de venda). Como a ideia é de buscar um spread positivo, procura-se que o bid seja menor que o ask.
Como funciona o spread no mercado financeiro?
Enquanto no spread bancário fica mais intuitivo o fato de que as taxas pagas a quem empresta dinheiro (superavitário) serão menores que aquelas recebidas de quem pegou emprestado (deficitário) e assim o resultado será na imensa maioria das vezes positivo, aqui a situação é diferente porque depende de outros fatores.
No mercado financeiro, com exceção aos títulos da chamada renda fixa pós-fixado (que corrigem os valores para cima do capital investido), quando falamos de ativos que variam, não existe garantia nenhuma de que os valores recebidos na saída serão superiores aos pagos na entrada – e nem de que o bid será mesmo menor que o ask.
Isso significa que, se o spread bancário é positivo, aqui não sabemos o que acontecerá na grande maioria dos casos até que a operação seja encerrada.
Como calcular o spread no mercado financeiro?
Quando falamos do mercado financeiro, o cálculo do spread leva em consideração os preços de entrada e de saída. Vamos a um exemplo numérico para facilitar o entendimento.
Suponha que você deseja comprar uma ação a R$20,00 (esse é o seu bid, a ordem de compra posicionada) e que, naquele momento, o mercado esteja pagando R$26,00 (esse será o ask). O spread dessa operação é de R$6,00 – que é a diferença entre o ask e o bid.
Aparentemente esse spread no mercado financeiro significa apenas uma medição vazia, mas ele pode passar mensagens importantes aos investidores a respeito do interesse existente sobre aqueles títulos.
O que indicam as pressões de spread no mercado financeiro?
Os diversos lance de compra (bids) e os pontos diferentes de preços de mercado (asks) formam o chamado livro de operações. Entre as diversas ofertas e preços de disposição do mercado, acabam existindo também os negócios fechados, que é quando esses preços fazem uma transação de compra e venda de fato acontecer.
Dois aspectos importantes a serem observados nesse balcão de negócios são o número de bids e asks ali presentes (e quantos negócios são formados) e a diferença entre esses dois itens.
Para o primeiro caso, o investidor descobre um pouco mais sobre a liquidez daquele ativo. Liquidez, na prática, é quão rápido você consegue comprar ou vender algo. Quanto mais ofertas e negócios fechados, mais fácil você sabe que é comprar e vender aquele ativo – e, consequentemente, maior a liquidez.
Em relação ao segundo, essa diferença tem relação direta com o quanto se espera de rentabilização na compra de algum ativo entre o momento de entrada e o de saída. Quanto maior essa diferença, mais é o que se está esperando receber de volta com aquele investimento para que ele valha a pena.
Isso significa que o spread acaba sinalizando de maneira reduzida o risco daquele ativo. Afinal de contas, quanto mais complicado for de comprar e vender e quanto mais se exige de retorno, podemos presumir que mais arriscado é ficar investido naquele ativo.
E a relação das criptomoedas com o spread?
Aqui é preciso fazer uma analogia entre os ativos do sistema financeiro tradicional e o mundo das criptomoedas. Dividindo as possibilidades em dois grandes grupos, sendo que o primeiro seriam os mecanismos de empréstimo e o segundo os criptoativos, o pensamento sobre spread é bastante parecido.
Sobre os mecanismos de empréstimo (por exemplo como na plataforma Aave), o spread bancário deve ser observado: a remuneração desse token envolve a diferença entre o que os deficitários pagam e os superavitários recebem por deixar seus recursos em cripto ali.
Já em relação aos criptoativos, pegando por exemplo o Bitcoin, a formação de preços existente entre os diversos bids e asks – e todas as mensagens passadas pela liquidez do mercado, negócios fechados e diferença entre ofertas e preços do mercado – mostram como quando você compra criptomoedas com esse objetivo, conseguirá entender as informações do mesmo modo que no “mundo tradicional”.
Se o parágrafo anterior ficou confuso, pense assim: comprar Bitcoin ou uma ação são coisas muito parecidas se você estiver falando em observar o spread do mercado financeiro, pois bid, ask, o livro de ofertas, os negócios fechados e o próprio spread são todos muito parecidos, mudando apenas os valores.
E tudo isso é feito de forma descentralizada, por meio do poder tecnológico da blockchain.
Spread: use a seu favor!
Considerando essa separação em dois grupos diferentes, sendo um os empréstimos e o outro a compra de ativos financeiros, lembre-se sempre da importância do spread em cada um deles para tomar as melhores decisões.
Quando pensar em empréstimos, busque as instituições que oferecem as melhores condições para um mesmo spread bancário – para não pagar mais caro sem sentido – e, na compra de um ativo financeiro, que pode ou não ser uma criptomoeda, lembre-se de entender o spread para tirar dele uma mensagem adicional sobre o que você está fazendo.
A partir de hoje, lembre-se: sempre que possível for, tenha atenção ao spread. Um pouquinho de esforço pode resultar em decisões muito melhores ao longo do tempo, combinado?