Bitcoin é um ativo que já teve diversas fases em termos de cotação. Dez mil unidades já compraram uma pizza, hoje uma unidade sozinha compra um carro médio no Brasil.
Mas, especificamente do começo de 2023 até agora, o que aconteceu para que tenhamos verificado uma alta tão forte no Bitcoin?
Existem três hipóteses possíveis e elas serão o recheio deste artigo. Vamos lá!
Uma alta relevante em 2023
A marca de US$30 mil dólares, alcançada pela última vez recentemente, era a cotação onde encontrávamos o Bitcoin em junho de 2022. Logo após esse mês, o que verificamos foi uma oscilação bastante concentrada na faixa entre US$16~20 mil, com algumas ocorrências pontuais (e já em 2023) que superavam essa barreira, se aproximando de US$25 mil.
Porém, após um período longo nessa mesma faixa, vimos o Bitcoin passar, em poucas semanas, da faixa de US$20 mil para os atuais arredores de US$30 mil. Como uma alta de 50% conseguiu acontecer em um período tão curto de tempo?
Vamos às hipóteses que ajudam a indicar como isso aconteceu.
Hipótese #1: Bitcoin passou no teste de juros
O primeiro ponto possível envolve o Bitcoin já ter superado uma situação que muitos apontaram como sendo impossível de superar: a subida de juros. Desde que os juros começaram a subir e o dinheiro começou a enxugar na economia global (principalmente nos países desenvolvidos), de fato observamos um inverno cripto e o mercado como um todo, que chegou a valer US$ 3 trilhões caiu para um terço disso.
Porém, tal qual no estouro da bolha pontocom da virada dos anos 1990 e início dos anos 2000, quem sobreviveu a isso acabou saindo muito mais resiliente, pois a utilidade dos ferramentais de quem passou por essa tsunami era mesmo palpável e real. Olhando para o universo cripto, ainda temos tokens que se destacam e, com certa vantagem, o Bitcoin continua sendo a que mais tem valor de mercado.
Temos então nessa primeira hipótese o fato de que, levando em conta que os juros subiram um tanto e o Bitcoin passou pela tempestade, seria uma hora adequada de estar posicionado nessa moeda digital de maneira mais permanente. E, no momento em que isso se torna uma realidade encarada pelas pessoas, acontece uma alta relevante de curto prazo.
Hipótese #2: Medo do retorno ao velho normal do pós-2008
A segunda possibilidade vai na direção oposta da primeira, mas tem como cerne o mesmo ideal: a crise de 2008, suas consequências para a economia real e a ação de bancos centrais.
O que se viu da crise de 2008 em diante foi uma injeção de recursos como nunca antes vista, combinada com a manutenção de juros em níveis bastante baixos, principalmente em economias desenvolvidas.
Sendo a motivação principal de Satoshi Nakamoto quando da época do whitepaper do Bitcoin criar um meio alternativo de pagamentos para não depender do enviesado e altamente centralizado sistema financeiro tradicional, temos que uma quantidade razoável de pessoas que veem no Bitcoin uma alternativa real a esse sistema decidem se posicionar na moeda digital em momentos de dúvida sobre o que vem a seguir.
Essa dúvida seria literalmente a segunda hipótese: será que os bancos centrais, diante de algum evento de quebra relevante (como foi o do Silicon Valley Bank), não podem pensar em retroceder a ação de aperto monetário e, no lugar disso, tornar a irrigar a economia com dinheiro infinito? E, se isso for feito, não teria efeito inflacionário ainda maior do que o que se verifica recentemente?
Na dúvida, estar em uma moeda digital desinflacionária seria mais seguro.
Hipótese 03: Receio de uma recessão que derrube os ativos
A terceira hipótese é o cenário que acontece na continuidade do aperto monetário (evitando o resultado temido pela possibilidade de número dois): o início de uma recessão mais forte que seja capaz de quebrar negócios e reduzir o valor de diversos ativos antes que isso se reflita na inflação e permita queda sustentada de juros.
As pessoas que encaram essa hipótese como sendo válida decidem que essa é uma hora adequada para se posicionar em Bitcoin porque verificam que, mesmo diante de eventos como o do Silicon Valley Bank, os bancos centrais não deixarão de lado a continuidade do aperto de juros, dado que seguem buscando cumprir suas missões no que tange a inflação (que está se reduzindo, mas ainda segue distante da meta em boa parte do mundo).
Levando em conta que o continuar desse aperto significa que os bancos centrais tendem a não cair na viciante aventura de desistir de tudo e irrigar a economia com dinheiro de novo, teria o Bitcoin, já que superou o teste de alta de juros, a capacidade de servir enfim como uma reserva de valor parecida com o ouro. Inclusive, o que reforça essa tese é justamente o fato de que a demanda recente por ouro tem sido bastante elevada.
E para onde o Bitcoin deve caminhar no futuro?
Assim como existe uma enorme dificuldade de prever os rumos futuros do dólar e de outras moedas fiduciárias, também é complicado apontar certo direcionamento para o Bitcoin. Em todo caso, pensando nas possibilidades aqui apontadas e nos cenários futuros que elas podem encaminhar, fica mais fácil entender como a demanda por Bitcoin tem subido e as cotações recentes têm refletido isso.
Importante verificar quais serão os próximos capítulos das hipóteses traçadas, principalmente as últimas duas, porque muito provavelmente surgirá de alguma delas, nos próximos anos, o conjunto de definições que aponta para o futuro do Bitcoin não apenas como ativo financeiro mas também como reserva de valor.
Artigo escrito por:
Caio Augusto – Head de Conteúdo no Terraço Econômico
Formado em Economia Empresarial e Controladoria pela FEA-RP
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