Quem, ao ler um jornal ou revista, nunca se deparou com a palavra Selic escrita no título de uma matéria de grande destaque? É praticamente impossível não ter visto, tamanho o uso dessa palavra nos mais diferentes veículos de comunicação.
“Selic no fim de 2022 permanece em 11,75% ao ano (…)”, “Selic a 9,25%: cálculo do rendimento da poupança muda (…)” ou “Títulos indexados à taxa Selic registram (…)” são apenas alguns exemplos, de uma quantidade bem grande de notícias envolvendo Selic ou, melhor dizendo, a taxa de juros Selic.
Bem mais do que estar presente em uma série de títulos de matérias, a taxa Selic tem uma participação direta em quase todos os setores da economia brasileira, a exemplo de bancos e seguros, com grande impacto sobre as nossas vidas, independente de nossa classe social.
Ok, a taxa Selic é tudo isso, popular nos jornais e com grande importância em nossa vida. Mas, o que exatamente é a taxa Selic? Hoje você vai ficar sabendo, porque é isso que veremos a partir de agora!
O que é a taxa Selic?
A Selic, que atualmente está em 9,25%, é a famosa taxa básica de juros praticada na economia brasileira. Para qualquer taxa de juros do Brasil, desde o financiamento da casa própria ao rendimento de grande parte das aplicações financeiras, a taxa Selic serve como base.
Sobre o seu nome, Selic, na verdade se trata de uma sigla, que vem do mecanismo eletrônico centralizado responsável pela realização do controle diário de custódia, liquidação e operação de títulos públicos. Esse mecanismo, que é administrado pelo Banco Central, chama-se Sistema Especial de Liquidação e de Custódia.
Uma observação importante é que, ao falarmos em “taxa Selic”, estamos nos referindo aos juros dos títulos públicos que o governo disponibiliza nesse sistema. Para entender melhor isso, que pode parecer algo complicado (mas não é), precisamos entrar em outra discussão, a respeito de como funciona essa taxa.
Como funciona a taxa Selic?
Para entender a forma como “funciona” a taxa Selic, é bom começar com uma observação sobre os governos: um governo, por vários motivos diferentes, precisa de dinheiro.
É por isso que existem os tão conhecidos impostos, não é mesmo? Exatamente, os impostos são sim uma maneira de arrecadação dos governos, mas esse não é o único meio! Outra forma de arrecadação acontece através de empréstimos.
Uma forma do governo conseguir dinheiro emprestado é a partir dos títulos do Tesouro Nacional, que são certificados de dívidas. Esses certificados são emitidos e vendidos pelo governo, e sabe em qual lugar? Isso mesmo, naquele já comentado mecanismo eletrônico que forma uma famosa sigla (Selic), um tal de Sistema Especial de Liquidação e de Custódia.
Desse modo, quem compra esses títulos, geralmente grandes instituições financeiras, possui o direito de receber um valor futuro com juros por essa compra. Mas não apenas por isso: muitas vezes as instituições financeiras também usam esses títulos como garantia para empréstimos de curto prazo (de menos de um dia).
Esse uso de títulos como garantia de curto prazo tem relação com a norma do Banco Central de manter a segurança do sistema financeiro através do controle de dinheiro em circulação. É que, do valor de depósitos diários arrecadados por uma instituição financeira, uma parte mínima precisa ser depositada no Banco Central.
Depósito compulsório: saiba apenas por curiosidade
Essa parte mínima é chamada de depósito compulsório. O que vale saber disso é: para cada real que colocamos nos bancos, uma parte disso fica depositado no Banco Central por um tempo, não podendo ser emprestado para outras pessoas – e, assim, não gerando spread bancário, que é o meio como os bancos ganham dinheiro.
Através desse compulsório há um certo mecanismo de controle do quanto os bancos podem “multiplicar o dinheiro”. E ele funciona de acordo com uma regrinha básica: M = 1 / R, em que M é o fator de multiplicação bancária e R que é a taxa de compulsório. Parece complicado, mas uma conta rápida ajuda a explicar como funciona.
Supondo que o compulsório seja de 50% (ou 0,5), o multiplicador bancário será de 2; já, caso ele seja de 20% (ou 0,2), o multiplicador será de 5. Desse número, o que importa a saber é: quanto maior o compulsório, menor a capacidade dos bancos de emprestarem dinheiro e “multiplicarem” o crédito na economia – e, conforme for menor o compulsório, maior será essa capacidade.
Existem outros aspectos que levam em conta a regulação complexa do setor bancário, mas esse, a respeito do depósito compulsório, funciona dessa maneira (simplificando toda a questão).
Quem define a taxa Selic?
A taxa Selic é definida a cada 45 dias pelo Comitê de Política Monetária, mais popularmente conhecido como COPOM, órgão que pertence ao Banco Central.
O COPOM é formado pelos seguintes membros:
- Presidente do Banco Central;
- Diretor de Política Monetária;
- Diretor de Política Econômica;
- Diretor de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos;
- Diretor de Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações do Crédito Rural;
- Diretor de Fiscalização;
- Diretor de Regulação;
- Diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania;
- Diretor de Administração.
Criado no ano de 1996, com inspiração no Federal Open Market Committee (o comitê do Banco Central dos EUA, o FED, que tem atuação parecida), o COPOM já surgiu com a função de definir a taxa Selic. Anos mais tarde, em 1999, o órgão passou a ter um novo objetivo: o de cumprir as metas de inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional.
Em cada ano, são realizadas oito reuniões, divididas em duas partes. A primeira parte é para a apresentação de dados sobre a economia brasileira e a economia internacional. Enquanto que a segunda parte de cada reunião trata de avaliar as perspectivas de inflação e de decidir qual será o valor da Selic.
Taxa Selic over vs. taxa Selic meta
Lembra quando falamos dos títulos do Tesouro Nacional como garantia para empréstimos de curto prazo?
Bom, paramos no ponto sobre a obrigatoriedade das instituições financeiras, que precisam, por força de lei, depositar parte dos seus depósitos diários no Banco Central. Pois bem, imaginemos uma enorme instituição financeira, que realiza milhares de transações financeiras por dia.
Com tudo isso em mente, não é nem um pouco difícil pensar na possibilidade de que falte dinheiro para ser depositado no Banco Central. Isso seria um enorme problema, não é mesmo?
Em tese até poderia, mas na prática isso pode ser facilmente resolvido com um empréstimo. A instituição financeira que está precisando de dinheiro, para realizar o depósito diário no Banco Central, pode pegar dinheiro emprestado de uma instituição com “dinheiro sobrando” no dia.
E qual pode ser a garantia para esse empréstimo? Uma garantia em títulos públicos do Banco Central!
Os juros que incidem sobre esses empréstimos, que acontece entre instituições financeiras, é chamado de taxa Selic over.
Acabamos de falar da taxa Selic over, mas não podemos nos esquecer da taxa Selic meta, até porque já falamos sobre isso anteriormente. É que essa tal de taxa Selic meta não é nenhuma desconhecida, estando bem presente em jornais e revistas, a tão comentada e discutida taxa básica de juros da economia brasileira.
Então, de maneira resumida: taxa Selic over é aquela que acontece todos os dias quando os bancos fecham os caixas (os que têm dinheiro sobrando emprestam para os que estão precisando para fechar as contas nessa taxa porque se baseiam nesses títulos públicos) e a taxa Selic meta é aquela que o Comitê de Política Monetária decide e você tanto lê por aí quando tem alguma novidade sobre.
Como investir com a Selic?
Não é nenhum exagero afirmar que, de algum modo, direta ou indiretamente, a taxa Selic afeta TODA a economia brasileira. No caso dos investimentos, a Selic ganha importância, podendo até mesmo decidir qual é a melhor opção de investimento para o momento.
Muito cuidado para não se confundir, pois ninguém, absolutamente ninguém, investe em Selic. O que nós temos são determinados investimentos de renda fixa que acompanham a taxa Selic. Além disso, também há investimentos que não parecem ter qualquer relação com a Selic, mas que são afetados de maneira indireta através do custo de oportunidade (opção que você desiste ao tomar uma decisão).
Que investimentos são afetados pela taxa Selic?
Quando falamos sobre isso, da relação entre Selic e investimentos, a primeira aplicação que costuma ser lembrada é a do Tesouro Selic. O motivo para isso é simples, pois além do nome, a rentabilidade do Tesouro Selic acompanha a taxa Selic. A relação é de 100%, então, quanto maior (menor) for o valor da taxa Selic, maior (menor) será o valor da rentabilidade dessa aplicação.
A poupança é outra aplicação que acompanha a taxa Selic, mas que difere do caso do Tesouro Selic. Na poupança, a regra acontece com base no valor de 8,5% ao ano da taxa de juros Selic. Quando a Selic supera esse valor, de 8,5% ao ano, a poupança rende 0,5% ao mês mais TR (Taxa Referencial). No caso da Selic ter valor igual ou menor que 8,5% ao ano, a poupança rende 70% da Selic mais variação da TR.
Como já comentamos, os efeitos da taxa Selic nem sempre são diretos, o que não necessariamente diminui o tamanho do seu impacto, sendo esse o caso das aplicações em renda variável.
Em primeiro lugar, uma elevação da taxa de juros Selic acaba favorecendo aplicações em renda fixa (como Tesouro Selic, poupança, debêntures, etc), “desencorajando” investimentos em renda variável.
Sobre isso de desencorajar, um fácil exemplo ajuda a compreensão: quando a Selic esteve em 14,25%, no meio da década de 2010, com essa taxa a cada cinco anos e meio o capital investido dobrava graças aos juros compostos; que outro tipo de investimento fazia isso com o mesmo baixo risco do Tesouro Direto? É quando se faz essa pergunta que se sabe a resposta.
Já, por exemplo, quando a Selic estava em 2%, ao investir no Tesouro Selic eram precisos mais de onze anos para dobrar o capital; nesse caso aí já fica bem mais fácil de pensar em investimentos que conseguem ter rendimento melhor que esse, por isso o “encorajamento” maior para que quem investe passasse a tomar mais risco (investir em ativos mais arriscados, como a renda variável).
Outra questão está no próprio efeito da Selic no mercado, que pode alterar a característica de um investimento em renda variável da chamada economia real, como é possível observar, por exemplo, no caso do mercado imobiliário.
No geral, o mercado imobiliário sofre o impacto de uma taxa Selic elevada. Isso ocorre em razão dos financiamentos se tornarem menos atrativos com um valor alto da Selic, gerando um efeito negativo nas ações de construtoras e nas cotas de fundos imobiliários. Até porque, quanto mais caro fica financiar um imóvel, menos pessoas vão querer fazer isso, não é?
Diferença entre CDI e Selic
CDI é a sigla para Certificado de Depósito Interbancário, que são empréstimos de curto prazo realizados entre instituições financeiras com o uso dos seus próprios recursos. Em condições normais, CDI e Selic possuem valores bem parecidos. Porém, não se engane com isso, pois se tratam de coisas diferentes.
A principal diferença entre Selic e CDI está na remuneração das instituições financeiras. No caso do CDI, a remuneração dos empréstimos de curto prazo é com base nos próprios recursos dessas instituições, sem o uso dos títulos públicos. Os títulos públicos são utilizados, no caso da Selic, como forma de remunerar o empréstimo entre instituições financeiras.
É bom observar que ninguém investe diretamente em CDI. O que existe de fato, algo que é parecido com o caso da Selic, são investimentos com rentabilidade atrelada ao CDI, a exemplo de CDB, LCI, LCA e Fundos DI.
Qual é a importância da taxa Selic?
A taxa Selic é a base, uma grande referência para toda a economia brasileira. Tamanha importância rende um grande número de notícias, principalmente aquelas que trazem os efeitos cotidianos da Selic, como em financiamentos e aplicações financeiras.
Essa importância não se encontra apenas no valor da Selic em si, mas na própria previsão da sua mudança, com isso possuindo ligação com a meta de inflação. Importante lembrar que a cada reunião do COPOM para definir um novo valor para a taxa básica de juros leva-se em conta o efeito dessa alteração no valor da inflação no país.
Isso decorre da taxa Selic ser um instrumento utilizado para controlar a inflação. Por exemplo, considerando uma expectativa de alta inflação, um valor que ultrapasse a meta estabelecida, isso indica que, na próxima reunião do COPOM, deverá ser definido um aumento no valor da Selic. A ideia é que esse maior valor deixe o crédito mais caro e reduza o consumo, impedindo a elevação da inflação.
Encarecer o custo do dinheiro na economia significa que, no fim do dia, menos transações vão acontecer, a economia irá se desaquecer e, com o tempo e esses efeitos, a inflação começará a ceder.
O contrário também pode ocorrer, considerando o caso da economia estar em recessão, com a taxa Selic sendo reduzida de forma a estimular mais transações na economia. A redução da Selic é uma forma de tentar baratear o crédito, aquecendo a economia com mais consumo.
Seja como for, a Selic sempre é a base para se decidir sobre a economia do Brasil e, mais importante do que saber onde ela está hoje é ficar por dentro de para onde ela caminhará amanhã!