Quando pensamos em investir, a primeira coisa que vem à cabeça é: quanto eu vou ter ao final de um determinado período de tempo? A segunda coisa é: como investir? Qual produto, o caminho a seguir e qual o risco eu vou querer correr? Porém, existe uma terceira pergunta que pouca gente se faz, qual a liquidez do(s) investimento(s) escolhidos?
Mas não precisa ficar preocupado, nós vamos te explicar tudo sobre liquidez neste artigo. Continue lendo e aprenda!
O que é liquidez?
Na forma mais simples possível: a liquidez é a possibilidade e facilidade de resgatar o valor investido e o lucro. É exatamente o tempo que o dinheiro demora para ser desmobilizado do investimento e voltar para o investidor. O quão rápido você consegue ter o dinheiro de “volta” maior é a liquidez do investimento escolhido.
Ao fazer um investimento, estamos, na realidade, colocando o dinheiro para trabalhar, ou seja, o dinheiro vai para alguma finalidade. Afinal de contas, o retorno não acontece “sozinho”.
Existe um processo intermediado pelo mercado de capitais onde a sua poupança será transformada em investimento na outra ponta.
Fatores como a complexidade do investimento e do processo de intermediação entre o dinheiro que sai da sua conta e chega na mão daquele que irá remunerá-lo (capital), são de extrema importância na determinação da liquidez. Um investimento pode:
- ir para uma dívida de uma empresa quando se compra uma debênture;
- ajudar a financiar o governo federal com um título no Tesouro Direto;
- comprar um pedaço de uma empresa via ação ou fundo de private equity;
- comprar um imóvel para viver da renda gerada pelos aluguéis do mesmo.
Tudo isso significa colocar dinheiro para trabalhar. Quando o dinheiro trabalha, ele é remunerado de alguma forma, fazendo o montante investido crescer.
Ou seja, o dinheiro vai estar na mão de outra pessoa ou entidade que não é o investidor, logo, se o investidor precisar do dinheiro de volta o processo pode demorar um pouco. Infelizmente, nem sempre um Pix é possível.
Por que a necessidade de liquidez existe?
A necessidade de liquidez existe como fator determinante para os investidores planejarem com mais precisão a aplicação de seus recursos nos diferentes produtos financeiros disponíveis.
Se o objetivo é ter uma reserva de emergência, por exemplo, isso significa que o dinheiro precisa estar em um produto com liquidez diária. Assim, é possível resgatar o montante necessário, sem nenhum impedimento.
Por outro lado, quando a meta é juntar dinheiro pelos próximos cinco anos para dar entrada em um imovel ou comprar um carro, é possível escolher um produto com liquidez mais alta, que renderá mais, para “segurar” o dinheiro e perdas.
Para que cada plano saia como o esperado, é necessário avaliar a liquidez e encontrar as opções que favoreçam mais as metas do seu planejamento financeiro.
Leia também: O que é o patrimônio pessoal? Aprenda como construir o seu.
Qual o risco gerado pela liquidez?
Uma vez investido, o dinheiro estará “trabalhando”. Todo investimento tem uma janela de tempo para maturar e às vezes o dinheiro só estará disponível acrescido dos juros, após esse período. E se o investidor precisar do dinheiro investido antes do término do prazo estabelecido?
Bom, cada caso é um caso. As vezes é possível sair com todo o investimento intacto mais um lucro, porém existem casos onde é possível, inclusive, perder um pedaço do dinheiro inicialmente investido.
Para efeitos de simplificação, vamos começar com um exemplo bastante próximo e que faz parte da realidade da maioria dos brasileiros — sem considerar inflação, custo de financiamento e demais fatores que influenciam na vida real.
Suponhamos que você, caro leitor, decidiu comprar a vista um imóvel para viver da renda que o aluguel irá te gerar ao longo de vários anos. O tipo escolhido foi um apartamento no valor de R$ 200.000.
Esse é todo o dinheiro que você tem poupado, 100% do que conseguiu juntar. O que você vai cobrar de aluguel por mês equivale a 0,5% do investido, ou seja, R$ 1.000. Então, ao longo de um ano, receberá 6% do total investido em aluguéis.
Você conseguiu alugar o imóvel e está feliz recebendo os pagamentos, seu plano parece estar funcionando muito bem. Porém, acontece um imprevisto e você precisa vender o imóvel rapidamente. Com poucas semanas para fazer isso, decide anunciar seu apartamento pelos mesmos 200 mil inicialmente pagos.
Poucos dias após o anúncio, recebe uma oferta de um possível comprador, porém ele ofereceu R$ 180.000 e, dada a urgência em obter o dinheiro, você aceita a proposta.
Na pressa para ter o capital de volta, você precisou sacrificar 20% do montante investido e todo o rendimento do contrato do aluguel. Se fosse possível esperar meses para fazer a venda, as probabilidades de conseguir um preço melhor seriam grandes, pois ainda receberia aluguel.
O exemplo acima é perfeito para exemplificar o risco de liquidez: a rapidez para ter o dinheiro de volta fez com que você sacrificasse 20%. Ou seja, perdeu 20% do montante inicial investido, pois precisava do dinheiro.
Reduzindo os riscos ao investir
Quando estamos falando de investir, o risco de liquidez pode ser mitigado. A primeira coisa que o investidor deve fazer é entender qual o prazo que ele está disposto a ficar sem aquele montante prontamente disponível.
Por isso sempre falamos em diversificação, ter vários investimentos e cada um como uma função/propósito diferente.
Logo antes de investir, entenda os prazos de resgate e como o mercado funciona. Informação é sempre o melhor mitigador de riscos!
No exemplo acima, você, como investidor, colocou todos os ovos na cesta do imóvel para aluguel, que é por definição um investimento de baixa liquidez.
Porém, deveria ter dividido os R$ 200 mil em várias partes e investido um pedaço em um investimento com liquidez rápida, como um fundo D.I ou até mesmo na poupança, onde não existe risco de liquidez, para poder cobrir alguma emergência.
Leia também >>> Diferença de liquidez e rentabilidade: aprenda como analisar.
Como a liquidez afeta diferentes tipos de investimento?
Agora que você já entendeu o que é o risco de liquidez e como ele se manifesta, vamos ver como diferentes investimentos possuem diferentes riscos de liquidez. Um investimento líquido é aquele que possui regras que permitem o resgate de forma bem rápida e sem penalidades (lembra do exemplo do apartamento?).
Alguns fatores muito comuns nos investimentos podem influenciar a liquidez, vamos ver cada um deles:
- Carência: é um período pré-determinado onde o investidor não pode sacar o capital aplicado;
- Vencimento: é a data onde o investimento por si termina, muito comum em títulos de renda fixa privada e pública;
- Prazo de resgate: é o período entre o pedido do saque e o efetivo recebimento do dinheiro do investidor, muito comum em fundos de investimento.
Vamos ver alguns exemplos de como a liquidez pode mudar em diferentes classes de ativos:
Liquidez na renda variável (ações)
O principal exemplo de investimento de renda variável são as ações, que são negociadas em bolsa de valores, então, normalmente, a sua liquidez é fácil de ser observada.
Porém, ao observar as ações, você poderá encontrar de tudo um pouco: ações com muitos vendedores e compradores, logo com muita liquidez, e ações onde ao longo do dia acontecem meia dúzia de negócios.
Por um lado, as ações de empresas de grande valor de mercado, como as que compõem o Ibovespa, são mais líquidas, porque há mais procura por elas. Caso queira vender esse tipo de ativo, será mais fácil e, provavelmente, conseguirá no mesmo preço ou em um valor bastante próximo daquele que a ação está sendo negociada.
Já no caso das microcaps ou small caps, que são as empresas menores em valor de mercado, a liquidez tende a ser mais baixa, porque nem sempre há grande procura pelas ações.
Isso significa que pode ser mais difícil vendê-las, se necessário. E, assim como no nosso exemplo do apartamento, você correrá o risco de aceitar alguma perda se precisar vendê-las com rapidez.
No caso brasileiro, existe ainda um período entre a concretização da venda e disponibilidade do dinheiro para o investidor. É o famoso D+2, isto é, após vender a sua ação, o dinheiro cairá apenas dois dias depois na sua conta.
Esse é o tempo que a bolsa precisa para fazer os registros e liquidar a operação. Então, quando for vender uma ação, lembre-se desses dois dias.
Liquidez na renda fixa
Diferentemente das ações, a renda fixa é um universo muito maior, com diversas opções para o investidor e cada uma delas com diferentes fluxos de liquidez. Vamos falar das mais comuns: debêntures, tesouro direto, CDB e poupança.
No caso da renda fixa, a aplicação com a maior liquidez é a velha caderneta de poupança. Porém, existem outros produtos como o Tesouro Selic, o título mais líquido do governo federal negociado na plataforma do Tesouro Direto.
Como existe um mercado bastante grande e organizado para esse tipo de título, é fácil conseguir um preço justo para realizar a venda desses títulos. E o tempo de liquidação é de apenas um dia.
No caso das debêntures, é preciso tomar muito cuidado. Nem sempre existe liquidez e a negociação delas não acontece de forma eletrônica como as ações e títulos do Tesouro Direto, é via o mercado de balcão.
Nesse tipo de mercado, as operações demoram para acontecer porque nem sempre existe oferta e demanda correspondente. Alguns títulos ainda possuem emissões pequenas, ou seja, existem poucos investidores naquele mesmo investimento.
Logo, se você precisar vender rapidamente uma debênture pode acabar com um “apartamento” nas mãos.
No caso dos CDBs, é preciso ficar atento com o vencimento, existem CDBs de um dia e outros com vencimentos de até quatro anos, por exemplo. Portanto, o investidor tem que dimensionar muito bem quanto tempo ele quer ficar no investimento.
Assim como as debêntures, é possível sair antes do prazo. Porém, pelo mercado de balcão, onde nem sempre a liquidez é abundante, o risco de ter algum prejuízo existe.
Leia também: Quais tipos de investimento a longo prazo existem?
Liquidez dos fundos de investimento
Aqui existe um conceito duplo de risco de liquidez, o primeiro é do próprio fundo de investimento, pois a grande maioria dos fundos possuem prazos de resgate que podem variar entre um até 360 dias em alguns casos. Logo, o investidor precisa observar muito bem isso.
Além do prazo de resgate, existe o risco de liquidez dos próprios ativos do fundo iguais aos descritos para renda fixa e ações.
Se o gestor do fundo tiver muitos resgates ao mesmo tempo, ele terá que vender os ativos e correr o risco de liquidez daquele momento, podendo sofrer perdas para poder honrar os resgates.
Liquidez é ter dinheiro no bolso, não esqueça!
Agora que você já entende o que é liquidez, como ela se manifesta em diferentes situações e quais os níveis de liquidez em diferentes produtos de investimento, considere mais esse fator nas análises antes de realizar um investimento.
Pense em seus planos, no horizonte de tempo e tente fazer com que seus investimentos casem com o prazo desses planos.
Faça um planejamento financeiro robusto, organize as contas e sempre tenha uma reserva de emergência, assim, você evita o desastre do nosso exemplo do apartamento e fica tranquilo com os seus demais investimentos.
Como sempre falamos aqui no blog da Bitso, informação é a maior aliada na hora de investir e ajuda e muito a mitigar os riscos.