Quem já acompanhou o noticiário econômico financeiro já deve ter ouvido alguma expressão do tipo: “A volatilidade do mercado está alta” ou “o mercado está muito volátil”. Isso tem a ver com a forte oscilação no preço dos ativos, que normalmente acontece em um curto período de tempo, como em crises financeiras, por exemplo.
Neste texto explicaremos o que é a volatilidade, como ela é gerada, como medir a volatilidade e como se proteger dela. Vamos lá!
A definição de volatilidade
A volatilidade do mercado é uma das principais formas de se referir ao risco do mercado em um determinado momento do tempo. Quanto mais e com maior intensidade o preço dos ativos está se movendo, mais volátil está, logo mais risco ele pode trazer ao investidor naquele momento.
Ainda confuso? Calma que veremos uma definição completa a seguir:
A Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), que é um órgão autorregulador do mercado financeiro brasileiro, definiu que volatilidade é “o grau de variação dos preços de um ativo em determinado período, medido pelo conceito estatístico de desvio-padrão dos retornos logarítmicos”. Ou seja: uma medida que permite avaliar a frequência e intensidade das oscilações de preço de um ativo. Quanto mais o preço mexe, mais arriscado esse ativo é.
Apesar de soar complicado, a ideia por trás do conceito é muito simples: medir quanto oscilam os retornos de um ativo e assim identificar o nível de incerteza em relação às variações de valor. Por isso, a volatilidade é usada para mensurar o risco nos investimentos.
Exemplo prático: a volatilidade nas ações da Vale
Naturalmente, quanto mais alta é a volatilidade de um ativo, mais intensas e frequentes serão as flutuações do dinheiro aplicado. Ao comparar dois investimentos com o mesmo retorno esperado, faz mais sentido escolher aquele que varia menos nas cotações, para evitar reviravoltas drásticas para o bolso.
Mas já diria o ditado: uma imagem vale mais que mil palavras, vamos ver o preço de uma ação bem famosa, a VALE3 contra a taxa de juros do CDI. E você rapidamente saberá responder qual tem a maior volatilidade:
Apesar da taxa da renda fixa mudar de acordo com as variações da taxa básica de juros – a Selic, não existe variação do capital investido, apenas no quanto ele é remunerado, em alguns períodos o investidor ganhou 3% a.a e mais atualmente acima de 13%, mas o capital inicialmente investido nunca variou no período.
Enquanto quem comprou as ações da VALE viu seu dinheiro mexer bastante! No começo por R$25,00 e depois indo até R$120,00! E agora ao redor dos R$70,00. Note como a linha azul é ‘nervosa’, sobe e desce sempre; isso é a volatilidade embutida nas variações dos preços, o que confere maior risco ao ativo.
Indo um pouco mais a fundo no conceito de volatilidade
O termo “volatilidade” nos remete automaticamente ao sobe e desce do preço das ações, como mostramos acima e fica ainda mais claro no gráfico de desempenho das ações, que fazem parte da classe da renda variável.
A própria denominação “variável” indica que a rentabilidade do ativo não é previsível, o que muda é o grau de risco de acordo com o histórico de oscilações. Uma ação pode ter pouca volatilidade, enquanto outra muita.
Como se mede a volatilidade no mercado?
Por isso existe a chamada “volatilidade anualizada”, que é o cálculo do desvio-padrão de um ativo baseado em um ano (252 dias úteis) para medir a volatilidade dentro de um espaço de tempo. Essa informação consta no histórico de cotações das ações e representa o quanto o preço se afastou da média em 12 meses. Confuso?
Se uma ação tem volatilidade anualizada de 30% e sua média de preço foi de R$20,00 nos últimos 12 meses, a volatilidade diz que essa ação variou entre R$14,00 e R$26,00. Em bom português, o investidor pode ver seu capital investido subir ou cair 30% no espaço de um ano.
Vamos voltar ao nosso exemplo do gráfico acima e vamos ver a volatilidade da Vale em termos anualizados, e você verá como ela se comportou no último tempo e como ela se move em períodos de grande risco, como a crise do início da pandemia da Covid-19.
Note que nosso gráfico começa com uma enorme elevação da volatilidade, indo para próximo de 130%a.a! Isso é um período de crise, depois a média fica mais comportada ao redor de 20 até 40%. Uma volatilidade bastante alta, mas até pequena se comparada com algumas criptomoedas.
Basta voltar ao primeiro gráfico e ver a queda repentina e rápida da ação entre janeiro e março de 2020, que depois se recuperou.
Usando a volatilidade a seu favor
Quem investe deve usar a medida de volatilidade para entender se aquele ativo em questão se encaixa no seu perfil de investimentos, uma vez que a volatilidade é uma medida de risco, então quanto maior ela for, mais arriscado será determinado investimento.
Esse dado é muito útil para entender o comportamento de uma ação e também é usado para identificar momentos de sobrecompra e sobrevenda, ou seja, quando a ação passou por valorização ou desvalorização intensa e está prestes a reverter a tendência.
Quais mercados são impactados?
Absolutamente todos os mercados e classes de ativos são impactados! Afinal de contas, o preço de um ativo está sempre em mudança, incorporando novas informações e expectativas do mercado.
Principalmente os de renda variável como as ações. Mas a renda fixa também tem volatilidade, títulos pré-fixados e ligados à inflação mexem bastante de preço, mas não de rentabilidade, mas o preço pode variar de acordo com as taxas de juros de mercado. E claro, as criptomoedas também possuem volatilidade e às vezes até mais elevadas que os demais ativos financeiros tradicionais.
O gráfico abaixo traz a comparação da volatilidade da Vale, do índice ibovespa (principal índice acionário brasileiro), do S&P500 (principal índice acionário americano), do dólar e da principal criptomoeda, o Bitcoin:
Note como as ações americanas (S&P500) e o índice Ibovespa possuem volatilidades parecidas, com o Ibovespa na média sendo mais volátil, o que mostra que existe uma conexão entre os mercados de diferentes países, ao mesmo tempo que um país mais vulnerável do ponto de vista econômico como o Brasil tem um mercado mais arriscado que o mercado americano. O dólar tem na média uma volatilidade próxima das ações.
Note que o ativo mais arriscado do gráfico é o Bitcoin, que possui vários períodos de alta volatilidade, diferente dos ativos mais tradicionais que possuem picos apenas em períodos de crises. Ele é mais arriscado, mas isso não quer dizer algo necessariamente ruim, ok?
Como isso afeta os investimentos pessoais?
Conhecer a volatilidade de um ativo é primordial para que o investidor saiba o que ele está comprando e o que ele poderá esperar de variações de preço.
Apesar da volatilidade ser construída usando dados passados de variações de preço, ela é um farol importante para ajudar a guiar o investidor que pretende investir naquele ativo ou compor uma carteira com vários ativos de diferentes volatilidades.
Volatilidade e retornos: é importante conhecer!
Existe um velho ditado, conhecido por todos: Quem não arrisca não petisca e isso é verdade para as aplicações financeiras.
Só existe retorno elevado se houver risco associado ao ativo, ou seja, para ganhar mais dinheiro, do que simplesmente na poupança, você precisa compor uma carteira com ativos mais arriscados. Logo vai precisar adicionar mais volatilidade à sua carteira. Não tem muito jeito.
Não é preciso colocar todos os ovos na mesma cesta; na realidade, é possível compor uma carteira com volatilidade mais baixa do que a do índice Ibovespa, por exemplo, mas ainda sim tendo bons retornos, compondo ações, renda fixa, moedas e até mesmo criptomoedas.
Porém, lembre-se é preciso entender seu perfil de investidor para saber o quanto de volatilidade você está disposto a ter na sua carteira, incluindo uma diversificação em vários tipos de ativos.
Onde acompanhar essa volatilidade?
Diversos sites de finanças trazem a volatilidade como mostramos aqui, o Yahoo Finance, o InvestStats, apenas para citar alguns exemplos.
Mas você já percebeu que é fácil identificar se um ativo é volátil ou não, simplesmente olhando pela variação do gráfico de preço. Se a linha é muito errática, sobe e desce bastante, com certeza você estará diante de um ativo volátil, logo mais arriscado.
Qual a diferença na volatilidade de mercado e de criptomoedas?
Já vimos acima que a volatilidade é sim maior no mercado de criptos: o Bitcoin tem na média o triplo da volatilidade de dois importantes índices acionários, o Ibovespa e S&P 500; e esse é um dos pilares da explicação do porquê as criptomoedas não devem ser vistas como investimentos. Aliás, quem conhece há mais tempo o universo cripto já está acostumado a grandes variações de preços.
O próximo (e último!) gráfico traz a volatilidade de várias criptomoedas contra o principal índice acionário do mundo.
Mais uma vez vemos um resultado bastante similar ao gráfico anterior onde as criptos possuem uma volatilidade realmente bem mais elevada que os ativos financeiros mais tradicionais.
As criptos tem tido volatilidades médias próximas de 100%, o que significa bastante risco embutido, porém existe uma interessante possibilidade de retorno.
É fácil a conclusão de que o mercado de criptos apresenta uma volatilidade bem mais elevada que a do mercado de ações. Mas veremos que isso não é algo ruim, é apenas uma característica.
Como se prevenir em relação a volatilidade?
Se prevenir da volatilidade não é tarefa fácil, existem mecanismo complexos como o mercado futuro e derivativos que podem ajudar a suavizar as variações de preços dos ativos e proteger de grandes variações. Contudo, vale a pena frisar que derivativos, opções e mercados futuros são ativos financeiros complexos e que requerem conhecimento avançado.
Qualquer erro de cálculo pode transformar um aliado em um grande inimigo.
Porém, existe sim uma forma de se proteger de forma bem simples: diversificar! Falamos bastante em nosso texto sobre diversificação que uma boa carteira de investimento possui diferentes ativos em proporções que irão variar de acordo com o seu perfil de investidor, e que a boa carteira possui ativos descorrelacionados, isto é, que não variam juntos, então quando um cai muito o outro sobe e pode suavizar a volatilidade total da sua carteira.
É o famoso ditado de não colocar todos os ovos na mesma cesta, logo vários ativos descorrelacionados e cada um com a sua volatilidade, no final pode produzir uma carteira com bons retornos e um risco menor do que o investidor teria concentrando tudo em um único ativo.
Bem usada, a volatilidade é uma grande aliada!