História do Hard Fork e o que isso tem a ver com o Bitcoin

Hard Fork scaled

Todo grande projeto passa por alterações quando fica um bom tempo em operação. Algumas dessas alterações são tão grandes e mudam tanto o caminho original que passam a criar projetos diferentes, mesmo que a base seja igual. Neste artigo falaremos sobre Hard Fork, que é quando esse tipo de coisa acontece.

Desde que Satoshi Nakamoto colocou no ar o primeiro white paper do Bitcoin, muita coisa aconteceu, principalmente quando a ideia começou a ser testada na realidade. Ineficiências que poderiam ter virado motivos para desistir de usar Bitcoin acabaram virando melhorias e novos projetos.

Mas, sem spoilers, vamos te apresentar muito desse entorno sobre Hard Fork, Bitcoin e como essas duas coisas se relacionam.

O que é Hard Fork?

Antes de mais nada, é preciso falar sobre o que é Fork: vindo do inglês que significa garfo, é basicamente quando algo passa por uma bifurcação; um caminho vinha sendo trilhado e, de repente, duas ou mais possibilidades passam a figurar. A origem é a mesma, mas o destino pode mudar de maneiras muito diferentes.

A respeito desse tipo de mudança, quando estamos falando do universo das criptomoedas, existem basicamente duas possibilidades: o soft fork e o hard fork.

No primeiro dos casos, o soft fork, um problema é identificado e toma-se uma decisão: será preciso realizar uma atualização do plano original para que o projeto siga adiante. Muda-se, digamos, a direção do navio, mas o navio continua sendo o mesmo.

Já quando se fala em hard fork, isso significa que algumas pessoas identificaram um problema tão grande e incontornável que valeria mais a pena criar uma nova criptomoeda. Continuando com a analogia do navio: aqui é como se o caminho do navio original fosse tão desagregador que valesse a pena pegar um de seus motores e construir um novo barco.

Repare que, qualquer que seja o caso, a origem é a mesma: o projeto que se está falando. A diferença está no resultado da identificação daquele problema: você pode operar atualizações no próprio projeto (o soft fork) ou então acabar criando um projeto novo (o hard fork).

O que motiva um fork, independente de ser soft ou hard, é a necessidade de implementar alguma mudança que impeça que as pessoas deixem de usar aquela criptomoeda: escalabilidade, dificuldade operação, problemas de segurança… Os motivos possíveis para que um fork aconteça são diversos.

Levando em consideração que a criptomoeda mais conhecida, de maior valor de mercado e também cotação mais elevada, vamos tratar aqui das ocasiões de hard fork em Bitcoin, porque elas são as mais conhecidas e que mais tiveram observações analisadas amplamente dentro de tudo que envolve as criptomoedas.

Para além disso, vamos tratar também de forks ocorridos na rede Ethereum, por se tratar de uma união entre criptomoeda e rede de blockchain cuja utilização é bastante ampla e presente quando falamos desse entorno todo das criptomoedas.

Como surgiu?

Em 2009 Satoshi Nakamoto colocou em funcionamento o primeiro dos blocos de Bitcoin em uma blockchain: o chamado Bloco Gênesis. A ideia descrita de ampliar a liberdade financeira e reduzir amarras com o sistema bancário existente até então começou a funcionar em termos práticos. 

A ideia original colocada por Satoshi era de literalmente podermos nos livrar de toda e qualquer condição existente no sistema financeiro/bancário tradicional, indo para uma direção em que teríamos um meio global, seguro e distante de intervenções governamentais de quem quer que seja para transmitir dinheiro.

De lá para cá, muita coisa aconteceu e, principalmente, uma utilização por muitas pessoas que passaram a se envolver com as possibilidades daquele novo sistema que surgia de maneira independente.

3 motivos para Fork

Forks tem como objetivo fazer com que as pessoas não deixem de utilizar criptomoedas por certas limitações que elas oferecem, que possam prejudicar seu uso e hard forks dão origem a novos projetos quando algumas pessoas acreditam que tais limitações não podem ser superadas apenas com ajustes da trajetória original, mas sim com novos projetos.

As razões pelas quais vemos um fork acontecer podem ser as mais diversas, mas geralmente elas estão em uma das três motivações abaixo (ou em mais de uma delas ao mesmo tempo):

  • Adição de funcionalidades: o literal “imagina que interessante se essa criptomoeda pudesse também fazer o seguinte…”;
  • Resolução de riscos de segurança: um projeto cripto pode ser muito interessante a primeira vista, mas se houver a dúvida de que exista segurança em utilizar tal projeto, o uso não vai ser tão difundido e só ficarão por tempo suficiente nele aqueles que desejarem arriscar (geralmente sem muito compromisso com o longo prazo);
  • Buscando solucionar algum desacordo em relação à direção daquele projeto: a gestão e a governança de um projeto cripto levam em conta as visões de muitas pessoas em torno da continuidade deste projeto; quando há uma discordância muito grande e insustentável vemos ocorrerem os forks.

Novamente: são muitos os motivos que podem gerar um fork, seja ele soft ou hard, mas é difícil que você veja em algum lugar um fork que não esteja relacionado a qualquer um desses três motivos.

Qual é o impacto dos forks no mercado de criptomoedas?

Os forks geralmente ocorrem quando ocorre alguma espécie de dissenso ou discordâncias dentro da comunidade de usuários e desenvolvedores de algum projeto cripto. Ou seja, quando eles ocorrem, via de regra, aplicam-se melhorias aos projetos antigos. Porém, isso não quer dizer que os antigos projetos sejam ruins ou inseguros. Ao contrário, antigos projetos continuam sendo opções seguras e confiáveis. Os forks apenas indicam que parte da comunidade decidiu alterar alguns aspectos do projeto. Fim ao cabo, os forks também são importantes pois conferem maior transparência na gestão e desenvolvimento dos projetos criptos. 

Isso acontece porque quando um fork acontece, primeiramente quem está nas proximidades procura saber o que pode ter acontecido e quais são as melhorias trazidas com o produto daquele fork e, em segundo lugar, com esse interesse todo podem vir novos alertas de pessoas interessadas no assunto sobre possibilidades que passaram a existir.

Imaginemos um exemplo simples para facilitar o que isso significa: uma criptomoeda com projeto interessante, mas que tinha dificuldade em executar transações de alto valor; com um hard fork que gere outro projeto análogo àquele mas que agora permita que essas transações sejam efetuadas, mais pessoas que procuravam essa utilidade irão procurar essa criptomoeda.

A seguir, como comentamos anteriormente, vamos hard forks importantes ocorridos no Bitcoin, no Ethereum e também outros notáveis que ocorreram neste universo. Vamos lá!

História do Hard Fork no Bitcoin

A criptomoeda mais conhecida e difundida do mercado já passou por alguns hard forks importantes, como os que apresentaremos a seguir.

Litecoin

Conhecida como a prata das criptomoedas, a Litecoin (LTC) é um hard fork do Bitcoin que ocorreu em 2011. A ideia era dar mais velocidade nas transações e baratear as taxas de rede. 

É um dos cases de hard fork de maior sucesso, sendo que o LTC continua sendo bastante utilizado atualmente, com um valor de capitalização superior aos US$4 bilhões.

Bitcoin XT

Este foi um dos primeiros hard forks notáveis do Bitcoin: aconteceu no final de 2014. As duas maiores novidades que trazia eram a possibilidade de executar 24 transações por segundo (no lugar das 7 que o projeto original permitia) e o aumento do bloco de um para oito megabytes.

Após certo sucesso de algumas centenas de nodes executando o software em meados de 2015, poucos meses depois acabou sendo descontinuado por uma queda de interesse dos próprios usuários

Bitcoin Classic

Surgiu como resposta ao Bitcoin XT, no início de 2016, com intenção de aumentar o tamanho dos blocos do projeto original, mas para um tamanho menor, de 2 megabytes. Possivelmente a intenção seria a de deixar o projeto mais dinâmico e menos pesado que o anterior.

Chegou a ter cerca de 2.000 nodes por vários meses em 2016, mas acabou recebendo menos atenção depois. Existe até hoje e possui desenvolvedores ativos, mas muitos usuários migraram para outras opções.

Segregated Witness (SegWit)

Apresentada no final de 2015 por Pieter Wuelle, a SegWit originalmente tinha em mente ser um soft fork do Bitcoin que permitiria reduzir o tamanho de cada transação e, dessa maneira, possibilitar que mais transações fossem feitas ao mesmo tempo.

Apesar de ter surgido com a intenção de ser um soft fork, não apenas virou um hard fork como acabou servindo de inspiração para vários outros hard forks que aconteceram com objetivo semelhante.

Bitcoin Cash

Surgiu como resposta ao SegWit em agosto de 2017, buscando aplicar as alterações e atualizações de protocolo que aquele trouxe. Apesar da inspiração, não adotou o protocolo SegWit – e por isso se configura como um hard fork.

Trata-se do maior caso de sucesso de hard fork do Bitcoin que temos até hoje: Bitcoin Cash está entre as cinquenta maiores criptomoedas em termos de valor de mercado – lembrando que existem literalmente milhares de opções nesse mercado.

Bitcoin Gold

Apareceu como resposta ao Bitcoin Cash, em outubro de 2017, com objetivo de trazer de volta a capacidade de fazer a mineração com base em equipamentos mais básicos, tendo em vista que tinham em mente que a mineração naquele momento já dependia de equipamentos muito específicos e complicados.

Dois aspectos diferentes dele são que se aproxima muito de aspectos do Bitcoin original e também a existência de uma mineração rápida logo após do fork ocorrer: os desenvolvedores haviam minerado 100.000 unidades logo no lançamento, e essas moedas foram “doadas” a desenvolvedores e demais pessoas que acompanharam o processo. 

Bitcoin Diamond

A intenção desse hard fork foi a mesma do Bitcoin Cash: quem estava a par do desenvolvimento apresentava insatisfação com o tamanho dos blocos necessários para as operações.

O que oferece como diferencial são transações com maior privacidade, custos reduzidos e cinco vezes mais rápidas do que as do projeto original. O projeto existe até hoje.

SegWit2x

Logo que o SegWit foi implementado em 2017 os desenvolvedores já se planejaram para uma atualização do protocolo. Nessa atualização, de nome SegWit2x, os blocos passariam a ter dois megabytes.

A ideia era que esse hard fork viesse a público em novembro de 2017, porém, após discordâncias entre as pessoas responsáveis por seu desenvolvimento (algumas decidiram permanecer apenas apoiando a ideia do SegWit), a equipe que acabou ficando no SegWit2x se pronunciou cancelando a continuidade daquele projeto, que então sequer chegou a ser concluído.

História do Hard Fork no Ethereum

Temos no Ethereum uma estrutura das que mais permitem flexibilidade quando o assunto são as finanças descentralizadas (ou DeFi). Assim sendo, não há muito susto quando pensamos nos tantos hard forks que já aconteceram. Vamos tratar de alguns deles a seguir.

IceAge – Frontier

Aconteceu em setembro de 2015, poucos meses após o lançamento do projeto original (que se deu no fim de julho do mesmo ano). A ideia, ainda como fork, era a de permitir que desenvolvedores realizassem um verdadeiro stress test em uma rede em separada, enquanto mantinham em mesma situação a rede original.

Trata-se de um movimento não planejado e que, por não ter necessariamente gerado um novo projeto mas utilizado uma rede em paralelo para testes, é considerado um fork importante da história do Ethereum.

Homestead

Diferentemente do IceAge/Frontier, este é definitivamente um hard fork e ocorreu de maneira planejada. 

Essa mudança foi apresentada em março de 2016 e trazia basicamente duas grandes novidades: agora os usuários podiam transacionar ETH nessa rede e era possível criar e desenvolver contratos inteligentes por ali.

EtherZero

Este foi o segundo hard fork intencional e planejado de Ethereum e foi liberado em janeiro de 2018. A ideia aqui era a de oferecer maiores possibilidades no desenvolvimento de contratos inteligentes e aplicativos descentralizados (os DApps).

Além disso, a ideia não era aqui de oferecer transações mais rápidas, mas de buscar com que essas transações tivessem custo zero.

Metropolis

Um dos mais notáveis hard forks do Ethereum, Metropolis traz como novidade a busca pela resolução de várias falhas de segurança que permitiam até então que hackers acessassem os fundos das pessoas.

A solução aqui levava em consideração o uso de contratos inteligentes para autenticar a identificação das pessoas e ainda permitir nesse processo uma queda na taxa de confirmação das transações.

Serenity

Também conhecido como Ethereum 2.0, é um dos mais recentes avanços do Ethereum. Observando possibilidades de melhoria de outros forks e hard forks, agora a ideia foi de oferecer maior capacidade de transações, maior escalabilidade, taxas mais acessíveis e ainda redes mais eco-sustentáveis em termos de geração de novas moedas.

A rede Beacon Chain, que veio junto com Serenity, foi responsável por três hard forks em seguida: Berlin, London e Shangai, todos relacionados justamente a aspectos de segurança, escalabilidade e redução de taxas para utilização.

Estes hard forks possuem aspectos específicos da tecnologia utilizada, mas todos vão na mesma direção trazida por Serenity de buscar reparar erros de execução prática do projeto original do Ethereum.

O evento DAO

Geralmente grandes eventos testam a continuidade e a robustez das criptomoedas. Com Ethereum, esse grande evento foi o DAO: em 20 de julho de 2016 hackers roubaram US$50 milhões em ETH do DAO, que era um dos mais notáveis projetos derivados do Ethereum.

DAO vem do inglês Distributed Autonomous Organization (em tradução própria, Organização Distribuída Autonomamente) e tinha o objetivo de funcionar como um fundo de Venture Capital (que investe em projetos inovadores) descentralizado em que os investidores teriam direito a voto nas decisões com base em quanto investissem.

Tendo em vista o roubo ocorrido, a ideia acabou não indo para frente. No lugar disso, aconteceu a seguinte resposta da comunidade Ethereum: esses moveram recursos da rede original para outra que depois passou a ser chamada de Ethereum Classic, mudando protocolos de segurança para compensar as perdas do DAO e buscando evitar que novos casos como esse ocorressem.

Hard fork: a evolução dos projetos cripto

É possível que você tenha chegado até este artigo sem ter a menor ideia do que Hard Fork significava, mas após essa extensa explicação, podemos acreditar que você agora está muito mais por dentro do assunto.

Então, não se esqueça: fork é uma mudança de direcionamento e protocolo envolvendo blockchain, soft fork é quando essa mudança acerta pontos de um projeto e hard fork quando tais mudanças dão origem a outra criptomoeda.

Siga acompanhando os artigos aqui do Blog da Bitso para saber mais a respeito de diversos outros aspectos do universo cripto!

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