Ninguém imagina que algo inesperado possa acontecer em sua vida. A perda de um emprego, um problema de saúde, um acidente de carro… mas, apesar de ser praticamente impossível adivinhar como isso pode acontecer, é possível reduzir a chance desses eventos inesperados se tornarem uma enorme dor de cabeça em um futuro próximo. Ter uma reserva de emergência é uma dessas oportunidades de se preparar para um período de incertezas.
Então, neste artigo, você vai aprender tudo sobre o que é, no que investir, quanto ter e como montar a sua reserva de emergência para momentos de aperto. Vamos lá!
O que é uma reserva de emergência?
Reserva de emergência é um montante de dinheiro que é poupado para momentos de dificuldades. Normalmente, é uma quantia que varia de 3 a 12 meses de gastos mensais, podendo ser aplicado em investimentos de baixo risco (com pouca chance de perder dinheiro) e de alta liquidez (que podem ser transformados em dinheiro em menos de 1 dia).
A lógica por trás da existência de uma reserva financeira é o fato de que eventos inesperados acontecem com mais frequência do que imaginamos. E se não estivermos preparados financeiramente para esses acontecimentos, a decisão a ser tomada pode ser o início de um processo de endividamento que é muito difícil de sair.
No fim das contas, ter uma reserva de emergência permite maior tranquilidade na hora de decidir o que fazer em um momento de dificuldade.
Por que é importante ter uma reserva de emergência?
Muita gente já faz um mínimo planejamento na hora de comprar um eletrodoméstico, no momento de trocar uma parte do guarda-roupa ou ainda quando vai fazer uma viagem. São as chamadas metas financeiras, que podem ser de curto, médio ou longo-prazo.
Um ponto importante é que a reserva de emergência não deve ser utilizada para nenhum desses planos futuros. E isso soa meio estranho no início. Afinal, você tem R$20-R$25 mil reais (quem gasta R$4 mil por mês) ali guardado e não pode usar para comprar uma coisa que quer tanto? A resposta é um sonoro não.
Esse dinheiro reservado é, como o próprio nome diz, para emergências. Ninguém inicia um dia de trabalho pensando que vai ser demitido. Nenhum empreendedor inicia sua jornada pensando que a sua empresa vai quebrar no final do dia. No entanto, coisas fora do nosso controle podem mudar o que planejamos e criar cenários de dificuldades, que certamente serão mais complicados de lidar se você não estiver financeiramente preparado.
Quanto guardar?
O montante a ser poupado para fins de Reserva de Emergência está relacionado com o seu custo de vida. Se você gasta R$4 mil por mês entre despesas fixas e variáveis, esse é o seu valor de referência para calcular o total que precisa juntar. Importante dizer que caso seus ganhos sejam equivalentes aos gastos, você pode calcular o montante da reserva pela sua receita mensal também, ok?
Existe uma regra de bolso que diz que dependendo do seu tipo de trabalho – seja funcionário público, empregado da iniciativa privada ou empreendedor – o valor total a ser economizado pode variar. Essa regra, como você vai ver, tem relação com o quanto se ganha e qual o risco de deixar de ganhar isso. Vamos por partes:
Funcionário Público
Pelo fato dos seus ganhos serem bem mais previsíveis e a chance de um desligamento ser muito baixa, normalmente os funcionários públicos são orientados a ter uma reserva financeira de até 3 meses de despesas.
Então, se essa pessoa gasta R$6.000 por mês, ela deve ter um valor próximo a R$18.000 para emergências;
Empregado do setor privado
Diferente do caso do funcionário público, o empregado do setor privado não possui as mesmas garantias de estabilidade no trabalho, ainda que possua o FGTS. Ciclos econômicos podem mudar, áreas dentro da empresa podem ser realocadas ou reduzidas e muitos outros fatores podem ocasionar um desemprego involuntário.
Por isso, essa categoria deve ter uma reserva de emergência equivalente a 6 meses de despesas, para ser utilizada em casos urgentes que necessitam de resolução rápida. Assim, caso essa pessoa tenha um custo de vida que se aproxime de R$5.000, a reserva de emergência deve ficar próxima de R$30.000.
Empreendedor ou Autônomo
Quem optou por ser dono de negócio sabe que o mundo é repleto de incertezas. Será que o seu produto e serviço ainda existirá em 1 ano? Como os concorrentes estão inovando? Uma próxima pandemia pode significar o fim da empresa? Essas perguntas ficam martelando 24 horas por dia na cabeça de um empreendedor.
Justamente por causa desse risco maior, e pelo fato de não ter muitos direitos trabalhistas como os trabalhadores da iniciativa privadas (como férias, 13o salário e gratificações), tampouco a estabilidade de vínculo empregatício como os servidores públicos, é orientado aos empreendedores, autônomos e profissionais liberais a juntar até 12 meses de despesas.
Dessa forma, considerando uma pessoa que gaste R$4.000 por mês com despesas deve ter uma reserva de emergência deve ficar próxima de R$48.000.
Onde deixar a reserva de emergência?
Não basta apenas juntar esse dinheiro todo e deixar ‘debaixo do colchão’. Essa atitude não é muito inteligente, pois perde-se a oportunidade de fazer o dinheiro render. Portanto, é preciso investir esse dinheiro em opções de investimentos, mas com uma importante ressalva: o acesso a esses recursos precisa ser rápido, caso alguma emergência ocorra.
Nas palavras do mercado financeiro, isso significa que os investimentos escolhidos precisam ter alta liquidez. Isso significa que eles podem ser rapidamente transformados em dinheiro vivo caso necessário. Exemplos não faltam: uma conta remunerada no banco, um CDB com liquidez diária, títulos do tesouro vinculados à taxa SELIC e mesmo a poupança são meios de você aplicar o seu dinheiro e resgatar rapidamente se precisar.
Então, nada de investir o dinheiro da reserva de emergência em opções mais arriscadas, como ações, derivativos e fundos multimercado, beleza? Ainda, é preciso ficar de olho no prazo dos investimentos, visto que a questão da liquidez é muito importante em caso de emergência e necessidade de resgatar o dinheiro.
As criptomoedas podem ser usadas como opção?
Devido à grande oscilação de preços da maioria das criptomoedas, não é recomendado que você coloque parte ou o todo dos recursos da sua reserva de emergência nessa categoria de ativo. Em caso de quedas grandes das criptomoedas, você precisará repor o dinheiro perdido e, caso não consiga fazer esses novos aportes, o valor restante na sua reserva pode ser insuficiente numa eventual emergência que ocorra na sua vida.
Contudo, existem criptomoedas que variam pouco de preço, e estão vinculadas com ativos reais, como o dólar por exemplo. São as stablecoins, que podem ser usadas como um ‘seguro’ contra uma desvalorização significativa da moeda local. Ter esse tipo de ativo na sua reserva de emergência é mais arriscado do que os ativos de renda fixa, como CDB e Tesouro Direto, mas uma atitude bem mais sensata do que optar por Bitcoin ou outras altcoins.
De qualquer forma, uma pequena parcela da sua reserva pode ser alocada em stablecoins caso você queira, pois surpresas desagradáveis quanto ao rendimento desses recursos podem ser determinantes em um cenário de emergência, no qual o dinheiro precisa ser resgatado. De olho nisso!
Como juntar para uma reserva de emergência?
O esforço para juntar de 3 a 12 meses de gastos não é uma das tarefas mais fáceis. Dependendo do percentual que é poupado por mês, o desafio de formar a reserva de emergência pode levar muitos anos.
Imagine uma pessoa que ganhe R$4.000 e, com todo o esforço de planejamento consegue poupar R$400 por mês, ou seja, 10% do que ganha. Considerando que esse indivíduo trabalha na iniciativa privada, o ideal é que ele tenha R$24.000 reservado para emergências. Poupando R$400 por mês, serão necessários 5 anos para atingir essa meta, sem considerar os rendimentos dos investimentos. De qualquer forma, mesmo que um rendimento pequeno fosse considerado para cada um dos aportes de R$400, o período para juntar todo esse dinheiro se reduziria muito pouco, para 4 anos.
Assim, é preciso muita disciplina e autocontrole nesse período em que a reserva de emergência está sendo formada. São dois fatores que é preciso ficar muito atento: 1) não cair na tentação de usar esse dinheiro para compras supérfluas, que nada tenham a ver com casos de emergência e; 2) manter o dinheiro aplicado em ativos de baixo risco e alta liquidez, mantendo assim o dinheiro ‘próximo’ em caso de necessidade de resgate dos recursos.
A tranquilidade na hora de tomar uma decisão é o maior benefício
Na hora do aperto, nem sempre as melhores decisões são tomadas. Imagine um caso de desemprego involuntário de uma pessoa que é o provedor de renda da família. Ou seja, filhos e cônjuge dependem da grana mensal dessa pessoa para se alimentar, se locomover e outros gastos básicos e, de repente, aquele dinheiro deixa de entrar.
Se essa pessoa não possui uma reserva de emergência, a necessidade de tomar uma decisão para proteger a sua família das dificuldades financeiras pode levar a outros problemas.
Imagine que ofereçam um novo emprego a essa pessoa, com salário menor e com mais horas de trabalho. Por causa da situação de emergência, e pela falta de recursos próprios imediatos, há grande chance de que ela aceite o emprego. Se houvesse uma reserva de emergência, essa pessoa poderia ter mais tempo para decidir no que gostaria de trabalhar ou ainda optar pelo empreendedorismo.
Note que esse exemplo se aplica para outros casos nos quais a reserva de emergência pode ser utilizada, como em gastos de saúde. Essa grana guardada fornece a tranquilidade necessária para refletir e tomar a melhor decisão em um ambiente de muita incerteza. E isso faz uma baita diferença para o resto da vida, não é mesmo?